No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, 28 estudantes do todo o país obtiveram nota máxima na prova de redação, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Nesta sexta-feira (28), o Ministério da Educação (MEC) divulgou o espelho das redações.
O tema da prova de Redação do Enem 2020 foi “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. Abaixo, o Jornal da Paraíba mostra dois textos de paraibanos que receberam nota mil na redação do Enem 2020.
Aline Soares, 18 anos, João Pessoa (PB)
Aline Soares é de Fortaleza (CE) e mora na capital paraibana João Pessoa. Ela precisou driblar a falta de concentração durante as aulas remotas, em virtude da pandemia da Covid-19, em 2020, mas manter a rotina de estudos. O resultado pôde ser observado após a divulgação das notas. Ela obteve nota mil na prova de redação, e pretende realizar o sonho de infância de cursar Medicina.
Dica: “Uma técnica que eu usei foi fazer o esqueleto da redação antes de escrever o rascunho. Peguei a introdução, os dois desenvolvimentos e a conclusão, coloquei de lado e dividi em tópicos. Isso me ajudou muito para fazer a redação final”.
Veja a redação:
Francisco Mateus, 18 anos, Cajazeiras (PB)
Mateus mora no Sertão da Paraíba, em Cajazeiras, e só conheceu a estrutura da redação do Enem quando iniciou o Ensino Médio. Apesar de estudar para obter excelência na prova, ele não esperava obter nota máxima na edição de 2020. Pra conseguir isso, o estudante de Odontologia, que fez o Enem novamente para transferir o curso da capital João Pessoa para o interior no estado, precisou criar uma estrutura textual a partir de muita leitura.
Dica: “Eu criei o meu modelo de redação, baseado em um leque de argumentos. Esse ano, inclusive, eu esperava que o tema fosse voltado para educação, mas acabei criei um formato de redação enquanto estava me preparando para a prova, para que eu conseguisse encaixar qualquer tema. Qualquer estudante para se dar bem, tem que ler sobre vários assuntos”.
Veja a redação:
A Constituição Federal brasileira, promulgada em 1988, no artigo 196, prevê a todos os cidadãos o direto à saúde, e é dever do Estado promovê-la. Entretanto, a não aplicabilidade dos direitos e a desigualdade em conjunto com ausência de informação na esfera da saúde mental, permite entender a falha na Constituição como um desafio a ser enfrentado de maneira mais organizada na sociedade. Nesse sentido, convém analisar as principais causas, consequências e possíveis medidas para esse efeito.
Inicialmente, pode-se destacar a não aplicabilidade das garantias asseguradas pela Carta Constitucional como a ocasionadora do impasse. Nesse viés, ratifica-se a tese desenvolvida pelo jornalista Gilberto Dimensteim em seu livro “O Cidadão de Papel”, no qual implica que os direitos dos brasileiros estão denotados apenas no papel, isso é, embora o País apresente um conjunto de garantias bastante consistentes, eles atêm-se, de forma geral ao plano teórico. Nesse raciocínio, a obra faz-se concernente à realidade do Brasil, na qual inúmeras pessoas possuem problemas psíquicos e são estigmatizados como “loucos” ou “frescuras”, acarretando muitas vezes em enfermidades graves, como a depressão. É, portanto, inaceitável que o Estado e a sociedade não sejam capazes de solucionarem a problemática, para que, consequentemente todos tenham seus direitos assegurados.
Além disso, destacam-se a desigualdade como a consequência cardial da ineficácia das garantias estabelecidas. Acerca disso, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirma que mais de 13 milhões de brasileiros vivem em extrema pobreza sem acesso à saúde. É factual que esses indivíduos detêm uma probabilidade maior de não possuírem meios para informação e acompanhamento adequado à saúde mental, e quiçá encontrando-se à margem da sociedade. Em síntese, torna-se claro, os efeitos maléficos da desigualdade em uma país.
Desse modo, os alarmantes argumentos supracitados mostram a importância de medidas para esse fenômeno. Destarte, o Estado em conjunto com com o Ministérios da Saúde devem criar projetos de inclusão da saúde mental por meios de ampliações das unidades básicas de saúde e um quadro de profissionais qualificados e bem valorizados em áreas pobres e distantes, além disso, promover beneficências para custear os gastos de pessoas que estão em um tratamento psíquico, com o intuito de mudar a realidade de mais de 13 milhões de pessoas. Outrossim, para que isso seja exequível, compete a Receita Federal redirecionar verbas para mudar o quadro preocupante da peça fundamental de uma nação, saúde, a fim de que o artigo 196 não seja axioma a realidade, e sim intrínseco, fazendo-se antagônica à tese do jornalista Gilberto Dimensteim.