Voto no Estadual de Jaguaribe. Estudei lá no tempo da ditadura

Para Yolanda Limeira, minha professora de História

Voto no velho Colégio Estadual de Jaguaribe, onde fiz meu ginásio na primeira metade dos anos 1970.

Entre os meus colegas, estavam Walter Galvão e os irmãos Pedro Osmar e Paulo Ró.

Éramos os “comunas” do colégio, disse certa vez Galvão num dos seus artigos.

A cada dois anos, entro no colégio para votar e lembro de muita coisa.

Éramos rapazes modestos, pobres mesmo, e estudávamos numa escola pública do bairro.

Tenho muitas lembranças daqueles anos. Algumas, péssimas.

Quando cruzo a grade do portão, em direção ao corredor onde ficam as salas de aula, tantas imagens voltam à minha cabeça.

Penso em subir no palco e olhar para o espaço (um auditório sem cadeiras) onde fazíamos os ensaios da banda marcial.

Penso em ótimos professores e professoras que tive. Mas também no clima de repressão que o regime militar impunha a todos.

Vou contar uma pequena história daqueles dias:

João Pessoa, início dos anos 1970.

Um colégio da rede estadual.

Os alunos, todos adolescentes, tinham dificuldades com o aprendizado da matemática e se queixavam da ausência de diálogo com a professora. Havia, certamente, erros e acertos dos dois lados, mas havia um conflito que necessitava de solução.

Sete alunos procuraram o diretor, um ex-padre que não se furtava ao diálogo. Ele recebeu cordialmente os garotos, ouviu as queixas, pareceu compreendê-las e disse que conversaria com a professora.

A conversa não deu resultado. Pelo contrário, ampliou o conflito.

A professora citou os nomes dos sete alunos durante a aula e anunciou que, a partir daquele momento, seria implacável com eles.

A professora de OSPB – provável aliada da colega – fez um contundente discurso sobre coação. Coação moral. Coação física.

Na véspera da prova trimestral de matemática, a professora foi clara:

“Não estamos mais em 68! Se vocês insistirem, serão denunciados ao Grupamento de Engenharia!”

O conflito fora ideologizado!

O garoto de 14 anos que tivera a ideia de conversar com o diretor voltou assustado para casa.

Horas depois, ouviu dos pais a solução: a partir do dia seguinte, não voltaria mais ao colégio. Perderia o ano, mas não correria o risco de ser entregue à repressão.