O silêncio de Pazuello é um atestado do caos que o Brasil ainda enfrenta

Por ANGÉLICA NUNES

O silêncio de Pazuello é um atestado do caos que o Brasil ainda enfrentaDepois da cena constrangedora do bate-boca entre o senador Renan Calheiros e Flávio Bolsonaro na CPI da Pandemia, a possibilidade do silêncio do ex-ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, na audiência da próxima quarta-feira (19), é no mínimo decepcionante para quem esperava por respostas.

É claro que o general tem o direito constitucional de ficar em silêncio para não criar provas contra si mesmo no eventual caso de se tornar réu mais adiante.

Mas, por decisão de Lewandowski, ele poderá revelar “tudo o que souber ou tiver ciência” sobre “fatos e condutas relativas a terceiros”. E nesse quesito qualquer declaração pode respingar em Bolsonaro.

O general conduziu a pasta em dez dos quinze meses da pandemia da Covid-19. No pior estilo “um manda e o outro obedece”. É peça-chave das investigações sobre a condução do governo neste período.

Esperava-se que em seu depoimento ficassem esclarecidos fatos e equívocos da gestão Bolsonaro, como a adiamento da compra de vacinas, o protocolo da cloroquina, os problemas no abastecimento dos hospitais, o caos em Manaus. Esses só para rememorar alguns tantos deles.

Seria um momento para dirimir essas dúvidas, mas o que veremos é um oficial silente e um espetáculo dos senadores oposicionistas tentando colocá-lo em saia justa. Isso se os governistas permitirem.

Há uma movimentação notória do governo em minguar o depoimento. Isso fico claro com o pedido de adiantamento da sessão, o habeas-corpus solicitado pela AGU ao STF e com o show de Flávio Bolsonaro na semana passada.

Mas, as coisas que poderiam ser ditas na próxima quarta-feira de fato causam temor na claque governista. E não apenas no presidente, de orelha em pé com os prejuízos que mais um desgaste público poderia causar.

Até o vice-presidente Hamilton Mourão, que vez por outra tem seus arroubos oposicionistas, fez o lado corporativista falar mais alto. Para ele, o general tem o direito a ficar em silêncio durante o depoimento à comissão por estar sendo tratado como “investigado” e não testemunha.

Expectativas frustradas a parte, o silêncio do general será um cala a boca a todos os que clamam por respostas, que anseiam pela liberdade (que só virá com a vacinação em massa).