UEPB diz que vai combater vigilância de cunho ideológico em sala de aula

Em nota, reitoria anuncia ações para garantir liberdade acadêmica.

UEPB divulga 2ª chamada da lista de espera do SiSU 2019.1 (Foto: Assessoria)

A reitoria da Universidade Estadual da Paraíba (UEUEPB diz que vai combater vigilância de cunho ideológico em sala de aulaPB) divulgou uma nota, nesta terça-feira (30), em que anuncia medidas para garantir liberdade acadêmica de professores, alunos e técnicos. A UEPB, que tem à frente o reitor Rangel Júnior, revela ser alvo de ameaças por meio de redes sociais, objetivando o controle do conteúdo das atividades didáticas em sala de aula.

“A Instituição não vai admitir, em hipótese alguma, a prática de vigilância policialesca ou tentativa de impor o sistema completamente irregular e absurdamente afrontoso de controle daquilo que as professoras e os professores trabalham em sala de aula, a partir de uma pretensa vigilância de cunho ideológico”, enfatiza o documento.

Às vésperas do segundo turno das eleições, denúncias de campanha no Campus I, em Campina Grande, levaram a Justiça Eleitoral e a Polícia Militar a fazer uma fiscalização, entrar em sala de aula e recolher até uma faixa, gerando críticas da reitor Rangel Júnior.

Leia a nota

“Diante do recebimento de manifestações de professores e estudantes da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) referentes a conflitos já anunciados através de redes sociais, objetivando o controle do conteúdo das atividades didáticas em sala de aula, a Administração Central da Instituição vem a público repudiar tal abuso, que se configura como prática ilegal, totalmente contrária ao que preceitua a Constituição de 1988.

A compreensão da Reitoria da UEPB é de que absolutamente ninguém tem o direito de interferir diretamente naquilo que o professor ou a professora desenvolve como atividade didática, ou mesmo atividade acadêmica geral, seja no ensino, na pesquisa ou na extensão, desde que o conteúdo do seu trabalho esteja vinculado ao objeto de um projeto aprovado, de pesquisa ou extensão, ou a ementa de componente curricular.

Conforme a Administração Central, havendo qualquer tipo de desvio de rumo, em relação, por exemplo, a uma ementa, o Colegiado de Curso é o órgão competente para resolver tal questão. A Instituição não vai admitir, em hipótese alguma, a prática de vigilância policialesca ou tentativa de impor o sistema completamente irregular e absurdamente afrontoso de controle daquilo que as professoras e os professores trabalham em sala de aula, a partir de uma pretensa vigilância de cunho ideológico.

Na UEPB, há professoras e professores de praticamente todas as correntes de opinião, de todas as correntes do campo ideológico, que defendem as diversas tendências e opiniões, que participam das diversas organizações da sociedade, com as mais diversas crenças religiosas. Tais definições sempre existiram na história da universidade e não vai ser a partir de agora que esse cenário vai mudar.

Como instituição pública de ensino superior, comprometida com a pluralidade e o livre pensar, a UEPB não admitirá, em hipótese alguma, qualquer manifestação que vise cercear a liberdade acadêmica, o direito de professores e professoras desenvolverem o seu mister em sala de aula ou fora dela e, para isso, usará o disposto na Constituição da República Federativa do Brasil, as leis ordinárias ou leis infraconstitucionais, como por exemplo, a Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB), para garantir a autonomia dos professores e professoras no exercício da sua profissão.

Estamos, de fato, diante de um clima de histeria ou de fanatismo coletivo, resultante de um processo eleitoral que acirrou ânimos na sociedade e dividiu até mesmo famílias. Porém, a Constituição de 1988 não foi alterada em nada. As leis que regem a Educação de modo geral em nosso país, não foram modificadas. Portanto, não há nada a temer nesse aspecto. Não admitiremos, de qualquer que seja a corrente, de qualquer que seja a tendência de opinião, qualquer tipo de policiamento desonesto e moralmente condenável. Isto esgarçaria e quebraria padrões éticos fundamentais das relações de aprendizagem, estribadas no mérito, na confiança e no respeito mútuo.

Não descuidaremos de demarcar nitidamente as linhas que separam aquilo que é prática corrente, inerente a atividade acadêmica em uma Universidade, daquilo que possa se configurar como um abuso, de quaisquer origens, a favor ou contra quaisquer que sejam as correntes de opinião. Todas continuarão se manifestando como antes, independente de onde venham, nos limites do respeito à divergência, ao contraditório e à dignidade da pessoa.

Baliza também este pensamento a Recomendação da Defensoria Pública da União na Paraíba (DPU/PB), em Ofício Regional de Direitos Humanos, para que as instituições de ensino superior do Estado permitam e assegurem a livre expressão do seu corpo docente, discente e de técnicos administrativos no que se refere a quaisquer tipos de manifestações ideológicas e de opiniões, desde que em harmonia e respeito aos direitos fundamentais e demais princípios constitucionais.

Vamos zelar por aquilo que talvez seja o grande patrimônio do povo brasileiro das últimas décadas: a democracia. Mesmo frágil e cheias de defeitos, é a democracia que conseguimos construir nos últimos tempos. Vamos zelar por ela e vamos defendê-la até as últimas consequências”.