Para proteger Bolsonaro, Queiroga desliza feito quiabo e dribla senadores oposicionistas na CPI da Covid-19

Por LAERTE CERQUEIRA 

Para proteger Bolsonaro, Queiroga desliza feito quiabo e dribla senadores oposicionistas na CPI da Covid-19
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Se alguém duvidava da habilidade do paraibano Marcelo Queiroga no meio político, teve que se convencer que ele sabe jogar o jogo. Bolsonaro soltou fogos com o depoimento dele, ontem.

O ministro da Saúde deslizou feito quiabo, deu duplo carpado, driblou, e não comprometeu o governo como queriam os oposicionistas da CPI da Covid-19. Vale ressaltar, o despreparo de alguns senadores também. Queriam fatos, perguntando sobre opiniões. Queiroga, esperto, esquivou-se e seguiu o roteiro governista.

Bolsonaro saiu ileso, Pazuello também e todo mundo presenciou incrédulo Queiroga deslizar em qualquer pergunta que pudesse gerar problemas para o governo. Nada de materialidade, nada de acusações adjacentes, nem diretas. Podemos até condenar o posicionamento dele, mas foi um “soldado” fiel. Como médico omitiu informações que podem salvar vidas para não contrariar Bolsonaro. O que é grave.

Não opinou sobre a cloroquina 

Renan Calheiros (MDB-AL) se irritou, como um coronel contrariado, e não conseguiu tirar de Queiroga a opinião dele sobre a cloroquina. Tarso Jereissate (PSDB-CE), educado, até que tentou, mas ficou sem resposta. No máximo, a afirmação de que não houve recomendação dele para uso do medicamento.

Ninguém conseguiu tirar dele uma acusação contra o ex-ministro Pazzuello. Ninguém conseguiu fazer Queiroga dizer que é o presidente está errado em não incentivar o uso de máscara. Ele disse, no entanto, que o Ministério recomenda a medida. Ele só não consegue convencer o presidente, como já disse em outros momentos.

Ninguém conseguiu fazê-lo explicar porque depois de um ano o Brasil ainda não tem um protocolo de tratamento contra a Covid-19 padronizado. Apenas uma orientação.

Muito engodo 

Qualquer pergunta sobre ações passadas, o paraibano lembrava aos senadores que só estava à frente da pasta há 40 dias. Dizia que não era com ele, que não tinha conhecimento.

Sobre o impacto de eventuais erros passados, no cenário atual, Queiroga recorria ao gerúndio: “estamos trabalhando…”, “estamos fazendo”…

Engodo puro. Nas perguntas dos governistas, tergiversava sobre o passado, presente e futuro.

Até o erro do Ministério de recomendar a antecipação da segunda dose ficou sem resposta. O próprio Queiroga referendou a medida, mas ontem culpou a judicialização da questão para justificar parte do problema.

Tocou no governo

O mais próximo de atingir o governo foi quando ele disse que estados e municípios devem adotar medidas de acordo com a realidade local. Ou seja, prefeitos e governadores, interpretando a fala, têm que adotar providências. O que contraria o discurso do presidente.

Também negou que há indícios de guerra química,  como disse Bolsonaro esta semana.

Deu números incertos e confusos sobre as vacinas já contratadas pelo governo brasileiro.

Disse que não está sendo comunicado sobre o decreto “abre tudo”, anunciado pelo presidente, anteontem, no processo incansável de enfrentar a maioria dos governadores e o STF. Para ele, inimigos.

Condenou aglomerações que foram provocadas pelo presidente Bolsonaro dizendo que qualquer aglomeração é prejudicial.

Mas, para variar, não teve coragem de dizer que presidente está errado.

Queiroga evitou atritos com o chefe. Com subserviência assustadora. Só opinou quando era conveniente para o governo e negou dar opinião quando era contra. A CPI não conseguiu tirar dele nada significativo. Apenas, ficou evidente que Queiroga está disposto a fazer ginástica para defender o “mestre”. Boa parte da classe médica, no entanto, deve ter se envergonhada.