Bolsonaro diz que quer, mas Lira não vê espaço para reajuste de servidores em 2022

O presidente quer usar uma fatia do dinheiro que a PEC dos Precatórios pode trazer, caso passe pelo Senado.

Reunião de Líderes
Foto: Agência Câmara

Que o presidente gosta de um balão de ensaio, todo mundo já sabe. De vez quando, ele testa aliados e adversários brincando com as palavras. O problema é que ele também mexe com a cotação do dólar, da bolsa e faz investidores arrumarem as malas em busca de uma país com sanidade política.

O último balão, dessa vez eleitoreiro, foi quando disse que vai aumentar os salários dos servidores públicos. Servidores tão condenados por ele e por Paulo Guedes. Ninguém sabia se ele estava blefando ou qual o tamanho do blefe.

Do jeito que está, com olho no populismo eleitoral, e com discurso bonito de ‘reformismo popular’, em breve, o ministro da Economia começa a elogiar o funcionalismo público. Condenado em várias declarações. Talvez até mude de ideia e faça coro com o presidente.

O presidente de fato 

Quem não sai do prumo é Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, uma espécie de presidente parlamentar do Brasil.

Em reunião com líderes, nesta quinta-feira (18), deu seu recado: não vê espaço para o reajuste salarial dos servidores públicos caso a PEC dos Precatórios, caso seja aprovada pelo Senado. Já passou pela Câmara.

No início da semana, Bolsonaro “jogou para galera” e disse que pretende conceder aumento de até 10% para servidores,  com o espaço fiscal que seria aberto após a aprovação da proposta.

Para Lira, os números apresentados pela equipe econômica não preveem esse aumento. Ele ainda destacou que esse tema não foi apresentado aos parlamentares quando o texto foi acordado.

Mas o jogo já é conhecido. Resistir para cobrar. Como é ele que manda no governo, na pauta do país, pode exigir uma contrapartida para fazer um agrado ao presidente e aos “amados servidores”. Não se engane, se ele mudar de ideia.

Para os dois (os presidentes), vale tudo para ganhar apoio da opinião pública e passar a PEC da Salvação Eleitoral, ou melhor, a PEC dos Precatórios.

Reforma Administrativa

Outro debate chave é o da reforma administrativa. Empolgado com o sucesso do tratoraço comandado por ele, Lira até que sonhou em aprovar a proposta esse ano. Mas, se não montar nenhuma manobra, não vai sair mais.

No encontro de hoje, segundo relatos de parlamentares, demonstrou insatisfação com o governo,  por não se mobilizar pela aprovação da PEC 32/20. A PEC da maldade, como já foi chamada, tem resistência de muitos deputados. Para o alagoano, o governo tem um “apoio pálido” a favor do texto. O recado também não é de graça.

Temos basicamente quatro a cinco semanas de votação”, lembrou, já que o Congresso entra em recesso no final do ano. “Não temos como trazer essa matéria com as discussões como se encontra”, completou.

Emendas de relator

O “homem que manda no país” também volta os olhos para o Supremo Tribunal Federal (STF), que proibiu a execução do chamado orçamento secreto.

Ele aguarda a publicação do acórdão para apresentar embargos de declaração à Corte e reverter parte da decisão. Segundo Lira, aumentar a transparência dos pagamentos das emendas será o caminho. Difícil acreditar. São justamente os segredos que movem o atual governo brasileiro.

Deu pra ver que, atualmente, temos de um lado um presidente que finge que governa e espera dinheiro para reverter o desgaste durante o ano que vem. Do outro, o alagoano que define pautas, torna secreta a distribuição do dinheiro dos impostos, que sabe aproveitar a fragilidade do aliado, simbolicamente, mais poderoso.