Opinião: o medo de perder e a cartada segura de Aguinaldo

No fundo, ele queria ser senador, mas, com tantas pedras, sabiamente, mudou de rota: vai para reeleição a deputado federal.

A decisão do deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP) disputar a reeleição pode ter surpreendido alguns que acreditavam que o parlamentar iria para o risco. Não iria. O medo de perder falou alto, sim.

Eram muitos problemas: divisão no próprio partido, no Republicanos, Ricardo Coutinho (PT), pré-candidato ao Senado, com inelegibilidade incerta no meio do caminho.

Lá atrás, Adriano Galdino (Republicanos) já havia dito: “em bola dividida, Aguinaldo não entra”.

A decisão gerou interpretações de todos os tipos, afinal, é um cenário político virgem. Registremos algumas.

Habilidade na necessidade 

No fundo, ele queria ser senador, mas, com tantas pedras, sabiamente mudou de rota. Tem frustração, mas com projeto de futuro.

O parlamentar pode ter dado a impressão de fraqueza ao recuar, mas agiu com a racionalidade que garante praticamente um mandato de federal. Foi hábil, esperto e politicamente sustentável.

A virtual desistência (porque ele nunca assumiu) soa mal, agora. Depois, o que vale é o mandato.

O futuro

E, como bom estrategista, enquanto olhavam para a cadeira do Senado, cheia de obstáculos, a necessidade de repensar o caminho o fez mirar na vice, que, a depender da vitória de João, é garantia sem riscos e semente fértil para o futuro.

Fez do limão político, uma limonada para tomar pelos próximos anos.

Vai emplacar um vice que pode ser Lucas Ribeiro (sobrinho), Lauremília Lucena (esposa de Cícero)  ou qualquer nome fiel do grupo.

A decisão de hoje, por sua vez, pode garantir a máquina governista entre abril e dezembro de 2025, se João vencer a eleição e deixar o governo para disputar o Senado.

Se decidirem por alguém do grupo fora da família, Daniella Ribeiro (irmã e senadora) já começa a campanha ao governo assim que virar o ano de 2022.

Se for alguém da família, Lucas, por exemplo, o próprio Aguinaldo pode ser o novo candidato ao governo.

Com a confiança, em tese, que não haverá traição. Ou seja, a vitória de João dá aos Ribeiro cenário favorável para o futuro no governo.

Se João perde

E, se todos os projetos com o governador derem errado, o grupo continua com uma senadora, um deputado federal e um vice-prefeito de Campina. Nada perde.

Presente 

Afora as conjecturas do futuro, para o presente, a aliança e o fortalecimento de João, agora, garante bom terreno para tentar enfraquecer seus adversários em Campina, os Cunha Lima e os Vital do Rêgo, que estão no campo adversário, divididos.

Com perspectiva de alta votação, Aguinaldo ainda vai se empenhar para puxar o filho de Cícero Lucena, Mercinho Lucena, para o cargo de deputado federal. Ele garante que o PP fará mais um. Ou seja, três. Fortalece o PP que não é carne nem peixe. Pode ser Bolsonaro e pode ser Lula.

O não a João 

Aparentemente parece que João se enfraquece. Não tem um candidato ao Senado competitivo. Mas só parece. Pelo menos por enquanto.

Teria se fragilizado se Aguinaldo tivesse deixado a base e se, principalmente, não garantisse o PP e todo o grupo na campanha, para o bem do governador e dele próprio.

Se Aguinaldo entregar o que prometeu, Azevêdo ganha apoio dos prefeitos da região metropolitana Emerson Panta (PP) e Luciene Gomes (PSD), terá a prefeitura de Cajazeiras, com José Aldemir, deputados estaduais e vários prefeitos que não largam Aguinaldo nem com um trem na passando por cima.

Alguns duvidavam da presença de vários deles no evento desta sexta-feira (15), mas muitos estavam lá, numa solenidade para um anúncio de candidatura a reeleição, mas com a pompa de uma pré-candidatura ao Senado.

Goste ou não, a forma foi estratégica e surtiu efeito numa casa lotada.

Tudo bem que no sangue quente, alguns se frustraram. Pareceu enganação. Mas faz parte do jogo de quem joga bem. Parecer e nem sempre ser.

João, Aguinaldo e Cícero 

O futuro político de João, Aguinaldo e Cícero está cada vez mais acorrentado. Por isso, ou estarão juntos para ganhar ou todos perdem juntos. Os adversários são mesmos, cabe, agora, terem habilidade para juntar os cacos soltos.

Republicanos 

Agora, é a vez do Republicano decidir: vai querer a vaga ao Senado ou ficar com Efraim. Mas esse é um tema pra outra discussão.

Opinião: o medo de perder e a cartada segura de Aguinaldo

Foto: Rafael Passos