Vaqueiros trocam os cavalos por motos

O prazer de muitos vaqueiros – montar um cavalo para trabalhar – teve que ser reprimido pela conveniência do transporte motorizado.

Uma paixão que está no sangue e que passa de geração em geração está se modificando em meio às adversidades enfrentadas no meio rural nordestino. O prazer de muitos vaqueiros – montar um cavalo para trabalhar – teve que ser reprimido pela conveniência do transporte motorizado.

Na paisagem do campo o que se vê agora são motos em vez de cavalos. De acordo com a pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Verônica Fernandes, durante um estudo realizado em 14 municípios paraibanos, verificou-se que a ampliação do uso da tecnologia facilita o trabalho e contribui para a convivência com as mudanças climáticas e sociais.

O vaqueiro Iure Queiroga, 37 anos, administra cerca de 100 cavalos em um haras da zona rual do município de Lagoa Seca, no Agreste paraibano, e contou que mesmo com os obstáculos (cada vez maiores no campo), a sua profissão é mais uma paixão do que um trabalho.

Como muitos, Iure encontrou alternativas para melhorar e agilizar o serviço no campo. “Essa paixão está no sangue: gostar de cavalos, de fazenda, de criar gado… desde pequeno eu acompanhei meus pais nesse tipo de atividade e sempre me identifiquei (com ela). Mas hoje é mais vantajoso possuir uma moto como meio de transporte, já que é economicamente viável, pois é mais barato colocar gasolina em uma moto do que manter um animal mensalmente”, informou.

No estudo realizado pela pesquisadora Verônica Fernandes, que contemplou as cidades paraibanas de Aparecida, Brejo dos Santos, Cabaceiras, Cacimba de Areia, Ingá, Maturéia, Pombal, Santa Luzia, São Domingos, São José do Sabugi, São José do Bonfim, Sapé, Soledade e Sousa, também foi observado que com as adversidades no meio rural, como a seca e o difícil acesso, está nascendo o “vaqueiro-motoqueiro” ou o “motoqueiro-vaqueiro”, o “cavalo de aço” ou a ‘motorização rural”.

“No lugar do cavalo é a moto que é usada em todo processo produtivo: ‘tanger’ o gado, distribuir o leite, vender a produção. O acesso à moto é reflexo de mudanças econômicas nas famílias e da associação de atividades produtivas”, informou.

Ela explicou que a pesquisa, realizada durante nove dias do mês de março deste ano, abordou 29 vaqueiros e identificou que é na moto onde os trabalhadores encontraram o mecanismo facilitador do trabalho no meio rural, propiciando condições mínimas para que ele continue a produzir e conviver com as mudanças climáticas e sociais.

“Eles estão muito satisfeitos com essa alternativa de transporte, com custo de manutenção mais barato, locomoção mais rápida e possibilidade de outros membros da família usufruírem (transporte familiar)”, explicou Verônica.