Getúlio tinha Villa-Lobos. Bolsonaro – pobre Brasil – não tem ninguém

Lembrei de Villa-Lobos nesta terça-feira (05) de carnaval.

É que ele nasceu num dia cinco de março, como hoje.

Por mais absurdo que possa parecer, lembrei de Villa-Lobos por causa de Bolsonaro.

Getúlio tinha Villa-Lobos. Bolsonaro - pobre Brasil - não tem ninguém

Li que o que o ministro Vélez Rodriguez propôs às escolas (Hino Nacional, crianças perfiladas, gravação em vídeo e “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”) é parecido com o que Villa-Lobos fez no Estado Novo.

O que Villa-Lobos fez no governo Vargas (a educação musical, o canto orfeônico, as grandes concentrações estudantis, etc.) não pode ser subdimensionado a esse ponto de comparação com um ministro a propor ilegalidades (vídeos de menores sem autorização, uso de slogan de campanha eleitoral) às escolas.

Claro que é complicado defender o Estado Novo. Claro que é questionável que Villa-Lobos tenha emprestado seu nome à ditadura de Getúlio. Mas há um legado da sua relação com a Era Vargas. Vinham de lá (para dar um diminuto exemplo) as aulas de educação musical que tínhamos nas escolas até o início dos anos 1970.

E há a obra gigantesca de Heitor Villa-Lobos, o maior dos nossos compositores, que projetou o Brasil internacionalmente.

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O Ministério da Cultura foi criado no início da redemocratização, depois da ditadura militar iniciada em 1964.

Sarney teve o paraibano Celso Furtado como ministro. Um luxo absoluto.

Collor transformou o ministério em secretaria e a entregou ao paraibano Ipojuca Pontes, um direitista ressentido que acabou com o cinema brasileiro.

Itamar teve Antônio Houaiss, nosso imenso filólogo.

FHC teve Francisco Weffort, um intelectual brilhante.

Lula teve Gilberto Gil, um grande artista popular que redimensionou o papel do ministério.

Bolsonaro não tem ninguém. Nem Ministério da Cultura ele tem.

E serve para quê? – perguntarão os que hoje exaltam a ignorância.

O futuro dirá.