Alunos temem prejuízo no Enem com a paralisação dos docentes

Por causa da greve, que já tem 23 dias, estudantes têm que pagar cursos ou estudar por conta própria, em casa. 

Com 23 dias de greve na rede estadual de ensino, para os estudantes, principalmente aqueles que estão nos últimos anos antes do ingresso no ensino superior, a falta de aulas causa uma preocupação dobrada devido à prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Eles relatam que, para minimizar os prejuízos da paralisação que começou dia 1º de abril, a alternativa é estudar em casa, ou, ainda, retirar parte do orçamento para custear cursos complementares. De acordo com os sindicatos representativos da classe, ainda não há previsão de retorno das aulas e hoje será realizada uma assembleia geral da categoria.

Com os livros em mãos, a estudante Wellen Pereira, de 17 anos, tem um objetivo claro em mente: ser médica. E para alcançar esse sonho, ela sabe que é preciso esforço e dedicação, o que ela está tentando fazer, mesmo sem ter aulas na escola em que estuda, o Lyceu Paraibano. Para ela, a incerteza do retorno das aulas causa grande preocupação. “Eu estou muito preocupada com a prova do Enem. Este ano eu estou no 3º ano e sei que tenho que me dedicar, mas, com essa greve, não sei o que vou fazer. A prova é difícil. Ano passado tive dificuldades porque não estudei, então este ano estou tentando me dedicar ao máximo, mas assim, sem aulas, fica difícil”, lamentou.

Segundo a estudante, os livros didáticos que deveriam estar servindo de algum apoio em casa para os estudantes não foram sequer entregues e, ainda, nem o primeiro bimestre foi concluído. Face a essa situação e às esperanças de cursar Medicina, Wellen não viu outra alternativa senão pedir para sua mãe pagar um cursinho pré-vestibular. “Minha mãe se juntou com a minha tia e elas estão pagando um curso para mim. Infelizmente, eu ainda me sinto prejudicada, porque como o curso é para os três anos, tudo é visto de forma resumida, e quando chegam as aulas do 3º ano, eu não consigo acompanhar muito bem porque ainda tem muito assunto que eu ainda não vi”, revelou.

Ao todo, Wellen estuda pelo menos nove horas por dia, incluindo as horas de cursinho e os estudos complementares em casa, mas, ainda assim, ela teme não ser aprovada no Enem. “Eu espero muito conseguir, mas sei que é difícil. Estou depositando minhas esperanças nesse curso, porque, se depender da escola, sei que sempre temos professores que não são comprometidos no dia a dia, então imagina em época de greve. Eu entendo a posição deles, mas eles também deveriam compreender a nossa”, acrescentou.

Diferentemente de Wellen, diversos alunos que estudam nas escolas estaduais do Estado não têm condições de pagar cursinhos particulares, então a disciplina em estudar em casa é a única alternativa de não sofrer tantos prejuízos. Uma dessas pessoas é Juliana da Silva, de 18 anos. Após o início da greve, ela passou a dobrar sua dedicação nos estudos em casa. “Eu estudo, pelo menos, três horas todos os dias. Eu pego sempre a tarde, que é o horário que eu estudo na escola, e, além dos livros, conto com o auxílio da internet”, contou.

Juliana quer ser fisioterapeuta, mas sabe que esse é um sonho difícil de ser alcançado, por estudar em escola pública, estar em período de greve e, ainda, não ter condições de pagar um cursinho superior. Apesar disso, ela tem esperanças de seguir o seu sonho. “Eu estou me esforçando. Espero que quando as aulas voltem a gente consiga repor as aulas e esse meu esforço em casa me ajude a não ter tantos prejuízos”, completou.

DIRETORES RECONHECEM QUE HÁ PERDAS
O Lyceu Paraibano é uma das escolas mais tradicionais do Estado. De acordo com o Enem-Escola 2013, que avalia o desempenho das escolas no Enem, a média dos 30 melhores alunos da escola naquele ano foi de 601.84, próximo às médias das melhores escolas particulares do Estado. Outro centro de referência no ensino no Estado é a escola Sesquicentenário, onde a média, segundo o mesmo indicador, chegou a 596.29. Essas duas escolas também estão com aulas paralisadas e, de acordo com a direção das instituições, os prejuízos são iminentes.

Segundo o diretor adjunto do Lyceu Paraibano, Agostinho Andrade, o Lyceu possui, ao todo, 2.100 alunos, dos quais cerca de 680 estão prestes a concluir o Ensino Médio. Além da greve, os alunos ainda tiveram que enfrentar um atraso no período de reforma, que postergou o início das aulas. Para ele, os prejuízos são inevitáveis. “Não tem como deixar de ter prejuízos, principalmente porque, mesmo que essas aulas sejam repostas, elas não acontecem com a mesma produtividade do que se fossem dadas em tempo corrido”, comentou.

A diretora adjunta do Sesquicentenário, Rosângela Carvalho, por sua vez, informou que, apesar de não terem aulas, os alunos estão tendo acesso às aulas do programa PBVest nos sábados. “A população toda tem prejuízos, mas temos que entender a luta da categoria. Nós, da direção, não aderimos à greve. Estamos abrindo a escola para o funcionamento do setor administrativo e os alunos ainda têm acesso às aulas extras do PBVest no fim de semana. Sabemos que não é fácil e não será da mesma forma, mas podemos garantir que todo o período sem aulas será compensado posteriormente”, assegurou.

SINTEP E APLP
As diretorias do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação da Paraíba (Sintep) e da Associação dos Professores de Licenciatura Plena (APLP) reconheceram os prejuízos que serão sofridos pelos alunos. Apesar disso, eles informaram que a não abertura do diálogo implicou essa medida e a greve deverá seguir por tempo indeterminado. Quando houver negociações e a classe voltar aos trabalhos, estará comprometida com a reposição das aulas. “Nós temos cinco pontos principais de discussão, alguns dos quais não precisam nem de dinheiro. Esperamos que se abra um canal de negociações, estamos tentando por todos o meios”, afirmou o coordenador geral do Sintep, Carlos Belarmino.

SEM CONTATO
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Estado da Educação (SEE), por meio da assessoria de comunicação, questionando acerca da reposição de aulas e da falta de livros, relatada por uma das alunas entrevistadas. Com relação à falta de livros, a assessoria informou que o FNDE/MEC mudou o sistema de solicitação de reserva técnica de livros didáticos pelas escolas e ainda não está funcionando para o acesso. Enquanto isso, a Coordenação do Livro Didático da Secretaria de Estado da Educação está fazendo o monitoramento das escolas para remanejamento dos livros, buscando atender o maior número de alunos.

Já com relação à outra demanda, a assessoria se comprometeu em responder à reportagem por e-mail, contudo, até o fechamento desta edição, não recebemos o retorno da solicitação.

ASSEMBLEIA GERAL
Para solicitar a abertura do diálogo com o governo estadual, os profissionais da educação deverão realizar uma assembleia geral a partir das 9h de hoje, em frente ao Lyceu Paraibano. Lá será discutido o prosseguimento da greve. Em seguida, os profissionais deverão descer em caminhada em direção à Assembleia Legislativa, onde pedirão aos deputados o estabelecimento do diálogo com a administração estadual.