Chove na PB no dia de São José

Agência Executiva de Gestão das Águas registrou chuvas em 64 cidades; em Patos a média passou 58% do normal.

No dia de São José (ontem) houve muita comemoração em várias cidades paraibanas, especialmente no Sertão do Estado, que registrou o maior índice pluviométrico das demais regiões, entre a última terça-feira e a manhã de ontem.

A Agência Executiva de Gestão das Águas (Aesa) registrou chuvas em 64 cidades. O município de Patos registrou uma média climatológica acima da histórica para o mês de março, ultrapassando 58% do normal, que é de 210 milímetros, nos 19 primeiros dias deste mês.

Ontem a maior precipitação também foi registrada lá, com 149 mm e causou vários transtornos e destruiu parte do Canal do Frango inaugurado no ano passado.

No sítio do agricultor Elias Medeiros, no município sertanejo de São Mamede, vizinho a Patos, os barreiros estão “sangrando” e a expectativa é de que o período das chuvas traga muitos frutos este ano.

“Chuva quando vem com força no Dia de São José é sinal de fartura, de um bom inverno. A gente estava precisando muito e graças a Deus, ela chegou em boa hora”, disse ele, que produz feijão e milho.

No município, a precipitação não foi tão significativa quanto a registrada em Patos, com 18,4 mm, totalizando 60,8 mm de chuvas este mês. Já na “Rainha do Sertão”, como é popularmente conhecida a cidade de Patos, a chuva foi além do esperado e acabou causando transtornos à população urbana.

Somente na noite da última terça-feira, a forte chuva durou três horas e conseguiu fazer transbordar canais, como o do Frango e o do Morro, provocando a inundação de casas ribeirinhas e deixando famílias desabrigadas.

De acordo com o coordenador da Defesa Civil do município, Sebastião dos Santos, 15 famílias tiveram que ser recolhidas em abrigos provisórios, como escolas, e já estão sendo encaminhadas para programas de habitação. “A chuva não estava sendo esperada dessa forma.

Apesar do transbordamento dos canais e da invasão da água em moradias que estão localizadas em áreas de risco, não houve vítima. A primeira iniciativa da prefeitura foi a de disponibilizar abrigos, alimentação e colchões para estas pessoas, que estão sendo cadastradas em projetos assistenciais. Também estamos fazendo um levantamento dos prejuízos e vamos produzir um relatório geral”, informou.

Apesar das inundações, nenhuma residência desabou, mas muitas árvores, especialmente as Algarobas, acabaram caindo devido à força da chuva. Muitas ruas também ficaram alagadas, inclusive no Centro da cidade.

Ainda segundo a prefeitura, a chuva da última terça-feira foi a maior deste ano e fez transbordar dois açudes importantes para a cidade, um deles, o que recebe a água do Canal do Frango. Também choveu muito no município de Santa Terezinha, que pertence à microrregião de Patos. Lá foram registrados 116,5 mm, da noite da última terça-feira até a manhã de ontem, totalizando 169,2 mm neste mês.

A secretária de Infraestrutura de Patos, Assunção Lucena, explicou que as casas inundadas estão localizadas em locais de invasão. “Quando acontece o transbordamento do canal, a vazão tem que acontecer na área de preservação permanente, onde estavam localizadas essas famílias, por isso as casas foram inundadas, porque a água não tinha para onde escoar.

Os ribeirinhos construíram as casas abaixo do nível do canal e nós estamos fazendo uma remoção para devolver à natureza o que foi tomado. As providências estão sendo tomadas para retirar as pessoas que estão em área de risco. E nós vamos repondo o que foi danificado”, disse.

A meteorologista da Aesa, Marle Bandeira, explicou que as regiões do Sertão, Cariri e Curimataú já estão dentro do seu período de chuvas (março a abril), que já está apresentando uma situação muito mais favorável do que a dos dois últimos anos.

“No Cariri, a situação ainda está crítica, mas no Sertão e Curimataú, a situação está bem melhor do que nos anos anteriores. Os prognósticos para o Sertão e Alto Sertão do Estado apontam para a ocorrência de chuvas isoladas e distribuídas de forma desigual. Então, é natural que sejam registradas ocorrências mais fortes em uma cidade e apenas uma garoa nos municípios vizinhos”, disse ela.

CHUVA DANIFICA OBRA DO PAC 2

A intensidade da chuva que caiu em Patos foi suficiente para destruir parte de uma obra inaugurada no município há menos de um ano, que tinha como finalidade justamente evitar que inundações de grandes proporções ocorressem na cidade.

O Canal do Frango, que custou aos cofres públicos R$ 27,6 milhões, transbordou em vários pontos da cidade e, no trecho que fica próximo à sede do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), no bairro Novo Horizonte, a parede lateral desabou. Em outros pontos do canal, que tem 2,6 quilômetros de extensão, também houve danos nas calçadas e parte da grade de proteção foi levada pela força da água.

A obra, que contou com recursos municipais e federais, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), foi entregue no mês de agosto pela prefeita da cidade, Francisca Motta, e pelo então ministro das Cidades, o paraibano Aguinaldo Ribeiro.

Na época, conforme o Ministério das Cidades, a obra de macrodrenagem urbana da bacia do Canal do Frango, que não suportou a primeira chuva de grande intensidade em Patos, foi realizada para controlar as cheias e evitar inundações, como a que ocorreu na cidade no ano de 2009, ocasião em que a prefeitura decretou estado de emergência.

Segundo a prefeitura de Patos, toda a extensão do Canal do Frango tem cerca de 5,2 mil metros de parede, mas apenas 30 metros desabaram. A gestão municipal informou ainda que a empresa responsável pela construção do canal foi notificada e esteve ontem na cidade para avaliar os prejuízos e tomar as providências necessárias, já que a obra tem uma espécie de seguro contra danos ao longo dos próximos cinco anos.

Ao falar sobre os prejuízos, o engenheiro da prefeitura, Amilcar Soares, informou que ainda é cedo para apontar o que causou os danos no canal. Ele informou que, em conjunto com a empresa, a prefeitura está levantando os prejuízos para iniciar os reparos.

Mesmo assim, o engenheiro disse que uma obra deste tipo nunca é planejada com base em padrões de chuva atípicos, como o que ocorreu ontem. “Não se faz projeto com parâmetros tão acima do normal. Com base nas medições que fizemos no Canal do Frango, choveu cerca de 211 milímetros naquele trecho em um intervalo de duas horas, o que é totalmente atípico. Agora, estamos estudando as alternativas e vamos anunciá-las em breve”, concluiu.

RESERVATÓRIOS RECEBEM ÁGUA

A forte chuva registrada nas cidades sertanejas fez com que todos os mananciais monitorados pela Aesa recebessem água, segundo o gerente de Recursos Hídricos da Aesa, Alexandre Magno.

Ele informou que a expectativa é que haja uma evolução gradativa no volume dos açudes. Mesmo com o aumento no volume, em Patos, o açude Farinha, que possui 23.738.500 metros cúbicos (m³) de capacidade, está com apenas 4,8% de seu volume total, considerado em situação crítica (menos de 5% de capacidade).

O manancial Jatobá I, que possui 17.516.000 de capacidade, está com 11% do total, estando em observação (menos que 20% do volume). Os dados foram registrados ontem, pela Aesa. Dos 123 açudes monitorados, dois estão sangrando; 28 estão com reservatórios com capacidade superior a 20% de seu volume total; 27 estão em observação e; 36 em situação crítica.