Criança morre e família aponta erro

CRM-PB abrirá sindicância para apurar suposto erro médico que levou à morte Gabriela Viegas Barbosa no Hospital do Valentina. 

Uma menina de 11 anos morreu após dar entrada no Hospital Municipal do Valentina, em João Pessoa, com uma crise de asma. A família acusa a médica do hospital de ter cometido erro, pois ela teria aplicado um medicamento que a menina tinha alergia, embora tivesse sido avisada pela mãe da criança. A morte foi confirmada às 23h40 da última terça-feira. O enterro da menina aconteceu na tarde de ontem cercado por muita emoção e indignação por parte de familiares e amigos.

O Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB) abrirá uma sindicância até a próxima segunda-feira para apurar suposto erro médico que levou à morte Gabriela Viegas Barbosa. Apesar de ainda não ter recebido nenhuma denúncia formal, o Conselho vai apurar o caso, conforme informou o presidente do CRM-PB, João Medeiros. Já a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) instaurou processo administrativo para investigar o caso.

De acordo com o laudo elaborado pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO), situado no Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), a morte de Gabriela Viegas Barbosa foi causada por edema pulmonar e cardiopatia hipertrófica.

A criança deu entrada no Hospital Municipal do Valentina às 10h40 da última terça-feira apresentando sintomas de tosse seca e cansaço, com quadro de asma brônquica. Conforme a SMS, durante o período em que esteve internada, foram realizados todos os procedimentos médicos necessários para reverter o quadro clínico apresentado. Apesar do esforço, ela morreu na noite do mesmo dia.

A Secretaria de Saúde informou ainda que a família da menina está sendo acompanhada pela assistência social do órgão e que caso seja comprovada eventual responsabilidade dos profissionais de saúde envolvidos no tratamento, eles serão responsabilizados civilmente.

Segundo o presidente do CRM-PB, João Medeiros, será realizada uma apuração preliminar, ouvindo as partes e elaborando um relatório. Se os conselheiros do CRM acreditarem que há indícios de erro médico, será aberto um processo ético profissional contra o médico responsável. As penas para o profissional responsável podem ir de advertência à suspensão e até cassação do registro profissional do médico.

“Mas nós temos que analisar muito bem as coisas. Não podemos fazer um pré-julgamento”, explicou Medeiros.

MADRINHA: "AINDA ESTOU SEM ACREDITAR"

Gabriela Viegas Barbosa, 11 anos, era a filha do meio de três irmãos. Desde pequena ela sofria com problemas de asma.

Bastava uma mudança de tempo ou um esforço a mais para a menina sentir a respiração pesada e começar as crises de tosse. Nesses casos, a mãe, Luciana Viegas, sempre sabia como agir: medicava e dava nebulização, ou então a levava para o hospital para ter essa medicação aplicada na unidade de saúde. Era tiro e queda, Gabriela ficava boa.

Na manhã da última terça-feira não foi diferente, Gabriela teve mais uma crise e Luciana a levou para o Hospital Municipal do Valentina Figueiredo. No local, a médica prescreveu um remédio chamado Berotec, comum para tratamentos de asma, porém a mãe logo informou à médica que a menina ‘não se dava’ com o medicamento. “Ela disse, mas a médica continuou dando o mesmo remédio”, comentou a madrinha da menina, Marinalva dos Santos que auxiliou a família.

“Eu ainda estou sem acreditar. Parece que ela ainda está aqui, viva. A gente leva para um hospital esperando que ela melhore e, quando vê, ela morre. É de não acreditar”, declarou a madrinha da menina.

Ainda segundo Marinalva dos Santos, a mãe de Gabriela não queria interná-la, mas a médica disse que a criança estaria com provável início de pneumonia e precisava ser internada.

Marinalva dos Santos contou que a menina recebeu vários medicamentos, inclusive Bertotec, mesmo sendo alérgica ao medicamento. A menina teria apresentado tremedeira e no final da tarde teria começado a sentir dores. “A mãe me ligou dizendo que a ela tava mal, pediu para eu ir ajudar e falar com a médica”, relatou Marinalva dos Santos que encontrou a menina ainda viva no Hospital Municipal do Valentina, mas, pouco tempo depois a criança relatou novamente dor no peito e desmaiou nos braços da mãe.

DENÚNCIA DE AGRESSÃO

Ainda no local, segundo a madrinha da vítima, um tio de Gabriela teria sido agredido e a família teria sido impedida de ver a criança logo após o fato.

De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a assessoria da Polícia Militar (PM) informou que não foi oficialmente comunicada a respeito. A assessoria ainda orientou que, caso alguém queira fazer uma denúncia, basta se dirigir à Ouvidoria da PM.

USO DE MEDICAMENTO

De acordo com o pneumologista Alexandre Araruna, o Berotec é um dos principais remédios usados para reverter casos de crise de asma brônquica. “A abertura dos brônquios é feita, principalmente, pelo Berotec, mas esse é associado a outras medicações”, explicou. “Se eu não usá-lo para abrir o brônquio no momento em que ele está fechado, eu estarei anuindo a morte daquele paciente”, reiterou.

Segundo o pneumologista, a resposta dada pela médica que atendeu a criança de que as reações de tremedeira e arritmia são normais é correta. “O Berotec, como qualquer outro medicamento, possui efeitos esperados de forma imediata. Os efeitos relatados pela família da vítima como sendo os apresentados por ela são os esperados”, declarou.

Conforme o diretor de Fiscalização do CRM, Eurípedes Mendonça, chama atenção contudo, o fato da certidão de óbito apontar que a criança apresentava cardiopatia hipertrófica, o que indica que Gabriela teria crescimento do coração, problema que não teria sido causado pelo uso do Berotec. O médico disse ainda que o fato de ministrar o remédio agravaria o caso, podendo ter causado um quadro de choque anafilático.

Eurípedes Mendonça ainda afirmou que o relato da família de que a menina era alérgica ao medicamento deveria ter sido escutado pelos médicos que fizeram o atendimento. (Colaborou Luzia Santos)