Delegacias fechadas inibem registros de BO

Região Metropolitana de João Pessoa tem apenas quatro unidades distritas abertas à noite.

Passava das 21h quando o técnico em edificações Pedro (nome fictício) se despediu da filha e saiu para trabalhar. No trajeto entre a casa dele, no bairro de Água Fria, em João Pessoa, e a avenida onde pega o ônibus, ele foi abordado por dois homens armados com revólveres que chegaram de repente em uma motocicleta. A dupla levou o celular, comprado há menos de um mês, e ainda ameaçou atirar contra a vítima, mesmo sem Pedro ter reagido.

“Foi uma ação muito rápida, mas o suficiente para me deixar com medo de sair de casa. Fiquei tremendo na hora. Fechei os olhos e esperei o tiro, na hora passa um filme pela sua cabeça”, declarou Pedro, que não registrou o crime. Ele revelou que não procurou uma delegacia porque ficou sabendo que a delegacia do Geisel, a mais próxima de sua residência, fecha após as 18h.

Para fazer um Boletim de Ocorrência (B.O), o técnico teria que se deslocar até a 9ª Delegacia Distrital em Mangabeira (9ª DD); Distrito Integrado de Segurança Pública (12ª DD), em Manaíra; 6ª DD em Santa Rita; ou 7ª Cabedelo. Essas são as únicas delegacias que funcionam em regime de plantão, além das especializadas, como a Delegacia de Homicídios e a de Atendimento à Mulher.

O crime de roubo do qual Pedro foi vítima é apenas um dos muitos ocorridos diariamente em João Pessoa, mas que não são registrados em consequência do fechamento de boa parte das delegacias após as 18h. No início de fevereiro, Fabiana Lima foi assaltada no ônibus, quando voltava do trabalho. “O bandido colocou uma faca de mesa nas minhas costas e pediu meu celular, outros passageiros também foram assaltados”, explicou.

Segundo Fabiana, o crime, apesar de deixar trauma, não foi registrado. “Se a delegacia de Cruz das Armas fosse aberta eu teria ido lá, mas eu seria obrigada a voltar para Manaíra para fazer o BO, achei melhor deixar para lá”, contou a comerciária.

Fabiana disse ainda que outras pessoas assaltadas no ônibus se queixaram do mesmo problema: o fechamento da 1ª Delegacia de Cruz das Armas.

Em nota, a secretaria informou que o fechamento foi uma decisão administrativa e que a Paraíba segue o padrão de outros Estados do Nordeste, no que se refere ao número de delegacias abertas na capital depois das 18h. Em Recife, considerada a 5ª capital mais violenta do país, segundo o Mapa da Violência 2013, há uma central de flagrantes, conforme informação repassada pela Seds.

O fechamento das delegacias também se espelhou em Natal (11ª capital mais violenta do país), onde há duas delegacias abertas à noite; e em Maceió (considerada a capital mais violenta do Brasil), onde existe um Central de Flagrantes. No Mapa da Violência, João Pessoa aparece como a segunda capital mais violenta do país, com taxa de homicídio de 71,6 por 100 mil habitantes. Quem lidera o ranking é Maceió, em Alagoas, com 94,5 homicídios a cada 100 mil habitantes.