Discriminação e violência são lutas diárias, apesar de avanços

Pesquisa do Grupo Gay da Bahia apontou que a Paraíba é o quarto lugar do país mais perigoso para a população trans. Segundo SEMDH, 31 travestis e transexuais foram assassinados no Estado nos últimos quatro anos. 

Espaços como o Ambulatório TT, infelizmente, ainda são exceção. Travestis e transexuais precisam enfrentar uma realidade difícil, não apenas em casa, mas também na sociedade.

Segundo a Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana do Estado (SEMDH), 31 travestis e transexuais foram assassinados no Estado nos últimos quatro anos – em 2014 foram oito homicídios e, neste ano, dois casos já foram registrados. Com base nesses dados, uma pesquisa do Grupo Gay da Bahia concluiu que a Paraíba é o quarto Estado do país mais perigoso para pessoas transgênero. No início de junho, uma travesti foi atropelada de propósito em uma avenida de João Pessoa.

Essa violência faz parte do dia a dia de Andreina e de milhares de pessoas trans. “Somos um país muito atrasado”, afirma. “Eu, por exemplo, faço questão de usar o banheiro feminino – por necessidade, porque sou de fato mulher – mas também por medo de violência e até estupro se eu utilizar o masculino”.

Em resolução publicada no dia 12 de março deste ano, o Governo Federal estabeleceu que o uso de banheiros e vestiários nas escolas deve obedecer a identidade de gênero de cada estudante. Ainda não há, entretanto, uma lei que estenda esse tratamento para banheiros de qualquer outro estabelecimento, o que pode trazer constrangimentos e insegurança para indivíduos trans.

"Há avanços nos direitos, mas que não são o suficiente", avalia o presidente da Comissão da Diversidade Sexual e Direito Homoafetivo da OAB-PB, José Mello Neto. "Muitas pessoas falam de ‘privilégios’ quando a população LGBT, em especial travestis e transexuais, conquistam novos direitos. Mas a questão é que essas pessoas não reconhecem que lutar para não ser espancado na rua, por exemplo, não é privilégio algum. Atualmente, um travesti ou transexual não tem os mesmos direitos que um heterossexual, não tem as mesmas oportunidades", diz ele.

A professora Loreley Garcia, pós-doutora, que leciona na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e pesquisa gênero e sexualidade, acredita que a falta da informação da população no geral dificulta a luta por direitos de travestis e transexuais. "A população ignora e desrespeita o travestismo e a transexualidade", afirma ela. "O que eles tentam é apenas ajustar os seus sentimentos íntimos à sua corporalidade, muitas vezes em conflito", explicita.

Para Andreina, o preconceito com relação a pessoas transgênero nasce na intolerância disfarçada sob o invólucro da religiosidade e na falta de informação e empatia das pessoas. “Quando conseguimos avanços, as pessoas acham que estamos invadindo um espaço reservado apenas àqueles que seguem a linha ‘normalidade’”, avalia, fazendo uma expressão de desdém ao destacar com os dedos a última palavra.

Segundo ela, o preconceito contra os trans está presente mesmo no movimento LGBT. “Muitos homossexuais ainda acham que os travestis e transexuais são um ‘estereótipo forçado’ dos gays”, lamenta.

Todavia, é na sociedade em geral que ela acredita que reside a maior fonte de opressão. “Mais do que gays e lésbicas, os travestis e transexuais são vistas pelas pessoas como destinadas à prostituição, à perversão, a um submundo escondido”, avalia. “Mas nós nos recusamos a aceitar isso. Nasci com sexo biológico masculino, mas identidade de gênero feminina. E daí? Isso não me faz pior que ninguém”.

Discriminação e violência são lutas diárias, apesar de avanços

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