Doença de Chagas ainda mata

Entre janeiro e dezembro do ano passado, 30 pessoas perderam a vida em decorrência da doença; 405 mortes foram registradas na PB desde 1999.

Apesar de ser mais comum na região Norte do país, a doença de Chagas também está provocando mortes na Paraíba. Entre janeiro e dezembro do ano passado, 30 pessoas perderam a vida em decorrência da patologia. Já foram 405 óbitos registrados no Estado desde 1999. Os dados são do Sistema de Informação da Mortalidade (SIM) da Secretaria de Estado da Saúde (SES).

De acordo com o órgão, as cidades paraibanas que mais tiveram os casos, ao longo dos últimos 14 anos, foram João Pessoa (50). Patos (28), Monteiro (27), Desterro (15), Princesa Isabel (13), Água Branca (13), Sousa (12), Teixeira (10), Imaculada (10), Itaporanga (9) e Sumé (7).

Para o médico infectologista e membro da Associação de Infectologistas da Paraíba, Evanízio Roque de Arruda Júnior, as estatísticas não retratam a realidade. Ele explica que o agente causador da doença é uma espécie de besouro, chamado popularmente de “barbeiro”. Quando está contaminado com o protozoário parasita Trypanosoma cruzi (microorganismo que provoca a doença), inseto transfere a patologia para as pessoas através de picadas.

Segundo o especialista, em João Pessoa, não existe ‘barbeiro’, porque ele não habita as regiões litorâneas. É característico de mata de Caatinga e é mais presente no Sertão. Por conta disso, o médico, que atua há 35 anos nessa área, acredita que as mortes registradas na capital são de pacientes oriundos de outras localidades do Estado. “Os pacientes que morrem aqui são de outras cidades e migraram para João Pessoa em busca de assistência, mas acabaram indo a óbito. Essa situação acaba gerando um viés epidemiológico que, na verdade, não existe”, declara.

A doença de Chagas tem cura e o tratamento é disponível na rede pública de saúde. Em João Pessoa, a instituição referenciada para atender os casos é o Hospital Universitário Lauro Wanderley, que funciona nas instalações da Universidade Federal da Paraíba, no Castelo Branco.

No local, os pacientes realizam exames e são atendidos por especialistas. Apesar do local possuir condições até de fazer internações em casos mais graves, o infectologista ressalta que o tratamento é simples e realizado no próprio ambulatório.

“Os pacientes recebem medicamentos e a orientação para fazer uso deles durante 30 dias ou mais. Eles não precisam ficar em isolamentos, porque a transmissão inter-humana é muito rara e só ocorre por meio de transfusão de sangue que não foi testado”, declara.

Segundo o Ministério da Saúde, o “barbeiro” é contaminado pelo protozoário que causa a doença de Chagas, ao picar um animal já infectado, a exemplo de pequeno roedor. Ao picar um ser humano, o besouro deixa fezes que penetram na pele, levando o agente transmissor.

Os sintomas são febre, mal-estar, inflamação e dor nos gânglios, vermelhidão, inchaço nos olhos, aumento do fígado e do baço.

Apesar de rara, se não tiver tratamento, a doença pode evoluir para a fase aguda e dar origem a meningite e encefalite. Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, a doença recebeu o nome do cientista Carlos Chagas, que ajudou a descobrir a cura da patologia.