Estação ferroviária no domínio de traficantes

Trens estão sem circular pelo local desde de 2008; estação se encontra em estado de abandono e dominada pelo tráfico de drogas.

A estação ferroviária de Campina Grande, conhecida como Estação Nova, localizada no bairro Quarenta, está abandonada, parcialmente destruída e tem servido de abrigo para traficantes, que usam o local para consumo de drogas e treinamento de tiro. Os funcionários que trabalham no local revelaram que estão pedindo demissão por causa das constantes ameaças de morte. Os moradores do entorno também estão assustados e alguns pensam em abandonar as moradias. A Polícia Militar (PM) disse que reforçará o policiamento, após levantamento da situação.

A equipe de reportagem do JORNAL DA PARAÍBA esteve no local, que fica a poucos metros do 2° Batalhão de Polícia Militar (BPM) e constatou a situação de abandono. Em alguns trechos não há telhado, o que ficou das paredes está tomado por buracos e o mato toma conta do entorno, que tem servido de depósito de lixo. A escadaria que dá acesso à estação está deteriorada e é um risco às pessoas que precisam atravessar a ferrovia para chegar nas próprias residências.

Outro risco é uma galeria de esgoto a céu aberto, localizada às margens da escadaria, que abriga bichos peçonhentos e até mosquitos da dengue, conforme relato de moradores. O que resta de mobiliário também foi alvo de vândalos, assim como fechaduras. Desde 2008 que não circula trem no local.

Um aposentado de 60 anos, que pediu para não ser identificado, resumiu o drama da população. “Essa situação aqui tem que ser mostrada pra ver se alguém toma alguma providência. Eu moro do outro lado da avenida Almeida Barreto e minha casa é alvo constante de pedras jogadas pelos traficantes. Além disso, tem toda essa situação aqui de lixo, um absurdo. De tudo se joga aqui, até bacias sanitárias, restos de comida. Do jeito que está não pode ficar”, denunciou.

Segundo a Secretaria do Patrimônio da União (SPU), a área em questão é de propriedade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Ao falar sobre o assunto, o supervisor do órgão em Campina Grande, Nivandro de Oliveira, explicou que a área não pertence apenas ao órgão.

Nivandro também informou que a área ainda está passando por um processo de inventariação para definir os limites e posses da propriedade. “Não temos como dar uma resposta sobre o problema, pois ele depende de mais de um órgão. O que podemos fazer é entrar em contato com todos eles para ver o que pode ser feito e entrar em contato com a assessoria de segurança da rede ferroviária para reforçar a vigilância no local”, relatou.

FUNCIONÁRIO RECEBE AMEAÇA DE MORTE

O medo está afastando os funcionários que ainda trabalham no espaço. Um deles contou que pediu demissão ontem, porque foi ameaçado de morte novamente, por membros da gangue “Bonde da Estação”. “Essa semana ele (o líder) veio aqui e me ameaçou de morte de novo. Eles ficam aqui de noite consumindo drogas, traficando,fazendo tudo o que não presta e treinando pra matar policial. Nem os vigilantes noturnos ficam mais aqui”, revela o funcionário, que também não quis se identificar.

Nos muros da estação existem várias pichações que fazem alusão aos grupos criminosos. Em uma delas, estava escrito: “Bonde da estação, nossa meta é mata polícia”. Outras mencionavam outra facção que ocupa o espaço, autodenominada “Bonde do Menor”. “Eles ficam aí quase toda noite. Quando a polícia chega, se escondem atrás de umas pedras. Todo mundo que mora aqui convive com o medo”, relatou uma dona de casa que passava pelo local e que, assim como os outros, teve medo de identificar. “Eles sabem onde a gente mora”, reforçou.

O subcomandante do 2° BPM de Campina Grande, major Gilberto Felipe, informou que nenhuma denúncia sobre a ocupação das gangues foi encaminhada ao batalhão, mas que irá solicitar ao serviço de inteligência um levantamento sobre a situação e, caso as denúncias se confirmem, solicitará o reforço da vigilância no local.

“Nós temos constante patrulhamento diário no entorno da estação e de todo o bairro. Não poderíamos deixar as imediações isentas de vigilância. São três viaturas circulando com três homens cada uma, além das especializadas, da Rotam e Força Tática, que cobrem toda Campina, incluindo aquele setor, sendo seis viaturas ao todo, com quatro policiais cada, e que fazem rondas com abordagens a suspeitos”, acrescentou. (Colaborou Déborah Souza)