Órfãos do vírus da AIDS silenciam para evitar preconceito

Jovens soropositivos que herdaram doença dos pais relatam a dor de ter que viver no anonimato com medo da discriminação e da exclusão na sociedade. 

Gerações marcadas por um estigma de vulnerabilidade e exclusão. É com essa triste realidade que as crianças e adolescentes órfãos do vírus HIV (Aids) convivem desde que perderam seus pais em virtude da doença, que de 1996 a 2013 já matou mais de 1,5 mil paraibanos, de acordo com os dados mais atualizados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

Silenciados pelo medo da exposição, as crianças e adolescentes que herdaram dos seus pais o vírus da imunodeficiência humana (HIV), causador da Aids, vivem no anonimato com receio de serem vítimas dos preconceitos de uma sociedade que ainda não aprendeu a conviver com essa situação.

Como é o caso do jovem de 17 anos que contraiu da mãe o HIV e prefere ter a identidade preservada, com medo de ser recriminado. Há oito anos ele perdeu a mãe em decorrência da Aids e foi adotado por sua avó materna, uma idosa com cegueira que atualmente tem 75 anos.

Desde essa época, um passou a ser o porto seguro do outro e juntos eles vêm lutando para vencer as dificuldades impostas pela condição dele de ter uma vida normal, em uma casa muito humilde em Campina Grande. “Eu me cuido, estudo, me divirto, mas não digo às pessoas que possuo o vírus porque sei que elas não vão entender. Prefiro manter em segredo”, frisou.

Esse caso não é isolado em Campina Grande, segundo a assistente social Susana Carvalho, que faz o acompanhamento domiciliar dessa e de outras duas famílias que acolheram crianças e adolescentes órfãs da Aids.

Ela atua no Grupo de Apoio à Vida (GAV), uma instituição sem fins lucrativos que oferece assistência às pessoas que vivem com o HIV em Campina Grande e conta que muitos estereótipos com relação à saúde dos soropositivos já foram desmistificados pelo avanço da ciência, que ainda não encontrou a cura para a doença, mas já desenvolveu mecanismos para controlá-la. No entanto, Susana revela que o preconceito continua sendo um grande vilão para eles.

“A maioria dos soropositivos são vítimas de preconceito e rotulações e isso acaba fazendo com que elas se escondam e peçam pelo sigilo da condição delas. A maioria opta por isso porque a Aids é uma doença conhecida como a ‘doença do pecado’ e historicamente ligada à sexualidade, embora hoje já se saiba que essa não é a única forma de se contrair o vírus do HIV. Por esse motivo não utilizamos nenhum tipo de identificação na nossa unidade, que funciona no bairro do Jardim Quarenta, já para evitar que as pessoas que frequentam esse espaço sejam vítimas de comentários preconceituosos só por estarem nele”, comentou a assistente social.

Na Paraíba, foram identificados 1.911 casos de Aids de 2010 a 2014, de acordo com os dados mais recentes do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinam). Mas receber o diagnóstico da doença não impede os soropositivos de levarem uma rotina normal, sem abandonar a sua vida afetiva e social, segundo o Ministério da Saúde (MS).

Serviço: Na Paraíba, a assistência às pessoas que possuem HIV é garantida por meio do Serviço de Assistência Especializada em HIV/Aids (SAE).

João Pessoa: Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW)
Campus I, s/n – Cidade Universitária
(83) 3216-7042.

Campina Grande: Serviço de Assistência Especializada em HIV/Aids (SAE)
Rua Siqueira Campos, 658 – Prata
(83) 3322-3272.

Grupos de apoio: Grupo de Apoio à Vida GAV
Av. Almirante Barroso, 672 – Jardim Quarenta, Campina Grande
(83) 3343-3773 Cel: (83) 8720-4730.