Patos: 5ª no país em pessoas aliciadas

Setor de fabricação e venda de calçados e déficit de postos de trabalho nas cidades ajudam para a estatística, diz Procuradoria

Em relação a Patos, que ocupa a 5ª posição no país com o maior número de aliciados para o trabalho escravo em 2014, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a coordenadora da Procuradoria na cidade, Marcela Asfora, acredita que o que leva o município a se destacar dentre as demais cidades paraibanas em pessoas aliciadas para trabalho escravo é o setor de fabricação e venda de calçados, além do déficit de postos de trabalho fixos. Ela comentou que essa prática acontece há vários anos.

“Patos tem um expressivo mercado de fabricação e venda de calçados. Com isso, alguns empresários compram a mercadoria e contratam pessoas para vender nas ruas, de casa em casa, inclusive nas demais regiões do país, principalmente no Sudeste. No entanto, chegando lá, esses trabalhadores se deparam com uma realidade diferente da prometida: trabalho em ruas, dificuldade de locomoção, de alimentação, dormindo muitas vezes em postos de gasolina e chegando a passar de três a quatro meses fora de casa, sem poder voltar”, comentou.

Segundo a coordenadora, as condições subumanas de trabalho são difíceis de serem identificadas, porque essas pessoas não têm um local fixo e trabalham muitas vezes de forma revoltante. “As dificuldades estão na grande informalidade e na falta de um local específico para que se possa flagrar as condições das pessoas”, explicou. Além disso, conforme Marcela, a falta de postos de trabalho é outra determinante na necessidade de sair do município.

Análise da notícia por: Jurani Clementino, doutorando em Ciências Sociais e especialista sobre migração

DESEJO DE "MUDAR DE VIDA" FAZ TRABALHADOR SAIR DE SUA CIDADE

"São vários os motivos que fazem o indivíduo colocar em prática esse projeto de sair de sua cidade. O mais comum, embora por si só não diga nada, é o famoso desejo de "mudar de vida". Essa mudança de vida (quase sempre representa acesso aos bens de consumo duráveis e/ou não duráveis, acesso aos serviços sociais, libertar-se dos sistemas de dominação paterna, masculina etc), só é possível através do trabalho. Nesse sentido, até meados da década de 1980 a região que oferecia melhores condições de acesso ao trabalho para esse público migrante (em sua grande maioria trabalho precarizado) era a região Sudeste. Portanto, historicamente estados como São Paulo e Rio de Janeiro tornaram, desde os anos 20 do século passado, em potenciais atrativos dessa mão de obra oriunda de estados nordestinos".