Pesquisa do governo americano reforça associação entre microcefalia e zika

Resultados preliminares dos casos mostram similaridades entre as mães de bebês com microcefalia.

O Centro de Controle de Doenças (CDC) do Governo dos Estados Unidos concluiu a primeira etapa de estudos na Paraíba que tem como objetivo compreender a microcefalia e sua associação com a zika para, posteriormente, combater os avanços da doença. De acordo com a pediatra e epidemiologista do CDC Erin Staples, mais de 600 famílias foram entrevistadas e os resultados preliminares dos casos mostram similaridades entre as mães de bebês com microcefalia. Todas elas apresentaram sintomas como erupções cutâneas no primeiro trimestre da gestação, o que reforça a possibilidade de que a infecção pelo zika nesse período traga maior probabilidade de ocasionar a microcefalia nos bebês.

Staples destacou que os resultados são preliminares e que ainda podem sofrer alterações após os resultados dos exames de sangue, próxima etapa da pesquisa. Segundo ela, os estudos também não detectaram evidências que associem níveis de renda ou escolaridade com a microcefalia, tendo em vista que o problema ocorre em classes sociais e níveis escolares variados. O estudo também não encontrou nenhuma associação da microcefalia com a exposição de produtos como inseticidas.

A pediatra e epidemiologista do CDC detalhou que oito equipes formadas por profissionais da área de saúde do Brasil e o mesmo número de equipes dos EUA percorreram todo o Estado em um trabalho de campo realizando a coleta dos dados. O trabalho teve início no dia 22 de fevereiro e fez um recorte de 165 bebês com microcefalia e 445 bebês sem microcefalia, para a realização de um estudo de caso-controle. Os bebês investigados tinham em média sete meses, e, do total de casos, a pesquisa teve 90% de aceitação, resultado que superou as expectativas. Apenas cinco mães se recusaram a participar do estudo e outras 14 não foram localizadas.

Entre os bebês analisados, 52% são do sexo feminino e 48% masculino, na faixa etária de 0 a 7 meses. Foram coletados dados, realizadas entrevistas e coletadas amostras de sangue de crianças com microcefalia, além de bebês saudáveis e suas respectivas mães.

A pesquisa realizada pelos EUA partiu de um banco de dados do Estado e, além das entrevistas, coletou o sangue dos bebês e das mães, que será encaminhado para a cidade de Fort Collins, no Colorado. Lá, serão realizados exames para identificar se houve ou não infecção pelo vírus zika e, então, associar essas informações às coletadas por meio das pesquisas de campo. “Nós associaremos as informações para começar a entender mais a respeito da possível associação do zika vírus com a microcefalia”, detalhou Staples. Os resultados finais só serão divulgados após a conclusão dos exames laboratoriais.

Mais consequências do vírus

Em Campina Grande, pesquisadores e profissionais da área da saúde se reuniram ontem para debater a epidemia do zika vírus. Conforme o virologista Amilcar Tanuri, do Rio de Janeiro, agora que foi evidenciado cientificamente que o vírus é o causador das malformações no cérebro das crianças, é necessário acompanhá-las para verificar outras alterações que poderão surgir. A afirmação do especialista aconteceu no evento “O Amor nos tempos do Zika”, promovido pela Facisa/FCM.

“Agora, nós reunimos evidências científicas suficientes para afirmar que o zika é o causador dessas malformações nos cérebros das crianças, que levam à microcefalia e outras alterações biológicas. Nosso grupo estuda o efeito desse vírus em células isoladas humanas e também de outros animais, e isso vem mostrando que ele tem capacidade de alterar o crescimento dessas células cerebrais no tubo de ensaio. Então, além da microfefalia, o zika pode causar outros efeitos de malformação, tanto no cérebro, como em outros órgãos e agora temos que acompanhar essas crianças para ver o que pode acontecer”, esclareceu o especialista.

Em relação ao tratamento ou à prevenção das alterações neurológicas causadas pelo vírus zika, o virologista afirmou que as pesquisas ainda estão sendo realizadas. “Nós estamos muito interessados e empenhados em descobrir drogas que inibam esse vírus, estamos pesquisando para isso. Já a vacina, também pesquisada por outros grupos, deve ficar pronta em cerca de três anos, mas até lá a gente vai ter que trabalhar a prevenção e o combate ao mosquito Aedes aegypti, vetor que transmite   o vírus zika.”

Prefeitura de CG firma parceria para fazer pesquisas

Os estudos relacionados à síndrome da zika congênita, que provoca atrofias cerebrais em bebês, a exemplo da microcefalia poderão ser realizados também no Hospital Municipal Pedro I, em Campina Grande, graças a uma parceria firmada pela Prefeitura Municipal com o Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto (Ipesq). As pesquisas vão ser orientadas pela  médica Adriana Melo, profissional que conseguiu comprovar a relação do zika com os  primeiros casos de microcefalia na cidade.

Duas salas do hospital foram cedidas para as atividades do instituto, sendo uma delas para a realização de ultrassonografias em gestantes com suspeita de zika, que antes eram atendidas em serviços conveniados. Implantado em novembro do ano passado o serviço de assistência do Pedro I já atendeu mais de 500 mulheres.