Sem uso, ferrovia enfrenta abandono em Campina Grande

Hoje não existe nenhum projeto de reúso do equipamento a curto prazo.

Quem utiliza uma ferrovia quase sempre sabe o destino onde quer chegar. Mas isso não acontece com a linha férrea que corta Campina Grande em cerca de 15 quilômetros. Hoje não existe nenhum projeto de reúso do equipamento a curto prazo e vários obstruções na linha interrompem a circulação de locomotivas. Há mais de quatro anos sem assistir à passagem de trens de carga ou de passageiros, os moradores dos bairros vizinhos acompanham a depredação da linha em vários trechos e das instalações da Estação de Passageiros.

Desde que foi instalada na cidade, em 1907, a ferrovia vem representando socialmente uma garantia de progresso e desenvolvimento, mas nos últimos anos a situação mudou totalmente. O último trem de carga que passou na cidade, segundo um dos últimos funcionários na cidade da Transnordestina Logística S/A, que hoje administra o trecho, José Gaudêncio da Silva,52, foi uma composição que trazia trigo do Ceará para Cabedelo, em 2010. O último trem de passageiros a utilizar o trecho de Campina Grande foi o famoso trem Asa Branca, que fazia o percurso entre Recife e Fortaleza e que circulou durante alguns anos na década de 1970.

A Assessoria de Comunicação da Transnordestina Logística informou que grande parte da malha ferroviária da Paraíba está desativada porque a companhia aguarda a finalização do trecho da ferrovia Transnordestina, na região sul do Ceará, para retomar suas operações, já que a malha da Paraíba, incluindo o trecho de Campina Grande, é uma das rotas utilizadas entre Fortaleza e o Porto de Suape, no Litoral de Pernambuco. A estimativa para a conclusão da obra é 2016 e o financiamento vem de recursos federais, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

José Gaudêncio da Silva garante que com poucos reparos a linha que corta Campina Grande, do Distrito de Galante até o bairro do Araxá, voltaria a ter condições de operação, mas revela que nas últimas reuniões com a empresa a orientação tem sido de manter o trecho fechado, com a exceção para o trem do Forró, no período junino.

Sem trens de passageiros e de carga, a linha férrea vem sendo gradativamente abandonada e passou com a busca por mobilidade urbana a ser utilizada como atalho para motoristas de vários bairros vizinhos, além de cenário para crimes, principalmente na área da antiga estação da passageiros, entre os bairros de São José e Santa Rosa.

O estudante Jonathan Marle, 19, mora no Bairro do Centenário e utiliza todos os dias uma passagem  que corta a linha férrea para conseguir chegar ao bairro da Dinamérica, reduzindo seu percurso de mais de um quilômetro. Ele avalia que a linha hoje não tem nenhuma utilização prática para a população, mas que passar pelo local também tem se tornado arriscado pelos constantes assaltos registrados na área, principalmente à noite.

Josafá Rodrigues,52, mora na rua Almeida Barreto, no Centenário, ao lado da ferrovia, há mais de 30 anos e denuncia que, por falta  de cercas para impedir a passagem de veículos e pessoas pelo local, a área serve apenas como atalho entre bairros, para destino final de entulhos de construções e de lixo e espaço de abrigo para criminosos.