Uso de furadeira doméstica em cirurgia é proibido pela Anvisa

Alerta de Tecnovigilância considera dispositivo impróprio para uso médico e descreve riscos. Médico denunciou uso de furadeiras comuns em cirurgias no Hospital de Trauma de João Pessoa.

Karoline Zilah

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe o uso de furadeiras domésticas em procedimentos cirúrgicos. A proibição expõe a irregularidade que estaria sendo cometida no Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa, segundo a denúncia apresentada na segunda-feira (5) pelo médico e membro da associação dos médicos da Paraíba, Ronald Farias.

O ‘Alerta de Tecnovigilância nº 939’ publicado em 2008, considera a furadeira doméstica como um dispositivo impróprio para cirurgias por não terem sido concebidas com a finalidade médica. 

Segundo a Anvisa, "a comercialização e utilização deste tipo de dispositivo em procedimentos cirúrgicos representam um grave risco à saúde da população e constituem infração sanitária, por se tratar de produto sem registro na Anvisa".

Entre os riscos, a Anvisa explica que a a furadeira pode contaminar o campo cirúrgico com o óleo usado na lubrificação; apresenta riscos de descargas elétricas; não tem controle de rotação; e não pode ser esterilizada.

Segundo o médico Ronald Farias, o aparelho que deveria ser utilizado para neurocirurgias, conhecido como craniótomo, está quebrado no Hospital de Trauma de João Pessoa.

A unidade é gerenciada pela Cruz Vermelha, que não negou o uso da furadeira, mas confirmou que o equipamento correto está quebrado há mais de um ano. Ele já teria passado por uma manutenção, mas voltou a falhas.

Já a Secretaria de Saúde do Estado enviou nota desmentindo as informações do médico e contradizendo o que a assessoria de imprensa do hospital havia divulgado anteriormente. Segundo o coordenador de neurocirurgia do hospital, Claudio Emmanuel, o Trauma possui dois craniótomos que estariam em pleno funcionamento.

O secretário estadual de Saúde, Waldson de Souza, caracterizou as denúncias como ‘infundadas’. “Não passam de perseguição política, produzidas por pessoas que não estão preocupadas e comprometidas com a melhoria do sistema de saúde da Paraíba. Com isso, quem mais sofre é a população, e não os gestores”, disse.