A memória abre cortinas

Em seu primeiro monólogo, Zezita Matos estreia ‘Brevidades’, espetáculo que fica em cartaz na Fundação Casa de Cultura Cia. da Terra.

Qualquer plateia diria que é mentira, mas Zezita Matos, 55 anos depois de pisar pela primeira vez em um palco, voltou a sentir o tal "friozinho na barriga" dos novatos. Isso porque, hoje, Zezita volta a experimentar o frescor dos estreantes: Brevidades é o primeiro monólogo da atriz campinense que já fez (e continua fazendo) de tudo, no palco e nas telas.

"Nunca tive vontade de fazer monólogos. Nunca achei interessante. O que eu gosto no teatro é de dividir, de estar olho no olho com o meu companheiro de cena. Mas o texto me convenceu", garante Zezita, que fica em cartaz com a peça em João Pessoa durante todo o mês, sempre às sextas-feiras e sábados, às 20h, na Fundação Casa de Cultura Cia. da Terra. A entrada é gratuita e os ingressos podem ser retirados na bilheteria do espaço com até uma hora de antecedência.

Brevidades faz parte do projeto ‘Figurações Brasileiras’ que, mensalmente, até janeiro de 2014, irá promover com o patrocínio da Petrobras a reestreia de outros três espetáculos do repertório do Coletivo de Teatro Alfenim: O Deus da Fortuna (que ficará em cartaz durante todo o mês de outubro); Milagre Brasileiro (em novembro); e Quebra-Quilos (de dezembro a janeiro).

Zezita só não participa do elenco de O Deus da Fortuna. No seu solo, escrito e dirigido por Marciano, fundador do Alfenim, a intérprete entra em um jogo metalinguístico e se coloca na pele de uma atriz que começa a sofrer as consequências do Mal de Alzheimer.

As questões advindas com a idade e os embates dos personagens com o tempo não são novidades para Zezita: em um de seus trabalhos mais recentes para o cinema, Catástrofe (Brasil, 2013), de Gian Orsini, ela também vive uma idosa às voltas com problemas de saúde. Pelo papel, Zezita faturou o prêmio de melhor atriz no Festival Curta Coremas, em julho.

"Eu estou muito feliz com os convites que surgiram para o cinema, mas o teatro tem uma coisa que o cinema não tem, que é o risco. Quando você está ali, no palco, naquele momento, não tem barreiras nem tem onde se segurar diante do público", reflete, recordando as experiências que teve nos ensaios abertos do monólogo em casas de repouso de idosos.

"Eu estava ali na frente de gente que poderia muito bem ser a minha personagem. Idosas que chegavam a entrar em cena e, de certa forma, participar da encenação", lembra Zezita, que também fez pré-estreias da montagem no Festival de Inverno de Campina Grande, em julho, e na Academia Paraibana de Letras (APL), em João Pessoa, na semana passada.

Segundo a diva do teatro paraibano, Brevidades faz um paralelo entre o teatro da época em que sua carreira começou, no final da década de 1950, e o teatro contemporâneo, no qual ela exibe vigor e, acima de tudo, humildade: "Cada trabalho é um aprendizado. Claro que tenho uma história dentro de mim, mas o aprendizado só se dá ali, no palco, e eu não entro de salto alto em lugar nenhum."