A Paixão sob um novo viés

Espetáculo da tradicional Paixão de Cristo fica em cartaz desta quinta-feira (17) até o domingo (20) no Ponto de Cem Réis em JP.

Antes que Antônio Vicente Mendes Maciel (1830-1897) se inscrevesse na história sob a alcunha de Antônio Conselheiro, ele também foi um filho de Maria. Personagem de Paixão, Segundo Antônio Conselheiro, espetáculo selecionado pela Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) para a tradicional Paixão de Cristo, o profeta de Canudos é a novidade da montagem que fica em cartaz de amanhã a domingo, às 19h e às 21h, no Ponto de Cem Réis. O acesso é gratuito.

Interpretado pelo ator Beto Quirino, Antônio Conselheiro foi quem inspirou o dramaturgo Fernando Teixeira e o diretor Roberto Cartaxo a trabalhar no texto que, atendendo ao edital da Funjope, narra a trajetória de Cristo sob a perspectiva da Virgem. "Ele era um grande fã de Maria", afirma Cartaxo, referindo-se ao peregrino que perdeu a mãe (Maria Joaquina do Nascimento) aos seis anos de idade.

Dirigindo a Paixão de Cristo pelo segundo ano consecutivo, Cartaxo explica que a ideia do espetáculo seria desenvolvida originalmente no teatro, mas acabou ganhando forma na encenação a céu aberto que contará com uma equipe de 120 profissionais, entre atores, bailarinos e técnicos. "Fernando Teixeira já tinha esse texto antes do edital, que é baseado em um livro escrito por Antônio Conselheiro e que mistura o elemento regional ao tradicional", conta o diretor.

Conselheiro aparece nos três atos, costurando a história de sofrimento que liga Jesus (interpretado novamente por Daniel Porpino e Horieby Ribeiro) a Maria (vivida por quatro atrizes: Takuya, Ana Raquel Apolinário, Deise Borges e Camila Oliveira).

Destaque também para um coro de nove rezadeiras que acompanha Maria e o personagem do filho do Rei Herodes, papel que ficou nas mãos de Thardelly Lima.

"Trabalhar com atores profissionais lhe dá uma certa segurança", reflete Roberto Cartaxo, que coordena um dos cursos de teatro mais famosos da capital. "Além do mais, o elenco é basicamente o mesmo com o qual eu trabalhei no ano passado. Conheço todo mundo e por isso conseguimos ensaiar tudo em 25 dias."

EM CABEDELO

Propalada como o maior espetáculo do gênero na Paraíba, a Paixão de Cristo de Cabedelo (a 15 quilômetros de João pessoa) também está prevista para começar nos próximos dias.

Com quatro atos e 55 cenas apresentadas em oito palcos, a versão do Grupo de Teatro Amador Alfredo Barbosa fica em cartaz no Forte de Santa Catarina da sexta-feira ao domingo, às 20h30. A entrada é gratuita.

VIA SACRA JÁ COMEÇOU EM CIDADES DO INTERIOR DA PB

Dentre as cidades do interior da Paraíba que contam os momentos da Via Sacra estão: Campina Grande, Riacho de Santo Antônio, Pilões, Esperança e Guarabira, que apostam no talento de atores da própria região para atrair milhares de fiéis que se emocionam com as lições deixadas pelo Salvador.
E as apresentações começam até antes da Sexta-Feira Santa. É o caso do grupo cênico da comunidade Remidos do Senhor, de Campina Grande, que já apresentou a Via Sacra em bairros de Campina Grande e esta semana passa por Pombal, Paulista e São Bentinho.

De acordo com Francivaldo da Silva Sousa, 29 anos, missionário da comunidade, a Via Sacra representada pelo grupo destaca oito, das 15 estações as quais Jesus passou, com o propósito de levar as pessoas para uma reflexão.

“É um momento muito forte para a nossa experiência.

Queremos levar as pessoas para a oração, e não apenas a assistir uma encenação que conta uma história. A nossa intenção é rezar com elas, por isso nós não usamos palco, ficamos perto das pessoas para que eles sintam mais perto a emoção da experiência de Cristo”, explicou o missionário.

Ao todo, segundo Francivaldo, serão dez apresentações até a Páscoa em locais diferentes (veja box) que proporcionam emoções distintas tanto no público como dos envolvidos no grupo. Para superar as dificuldades, o missionário aponta o aprofundamento no mistério da fé como combustível para aproximar ainda mais as pessoas da vida de Cristo. “Nós passamos já por Paulo Afonso (BA) e Recife (PE), por exemplo, e cada lugar tem uma identidade. É o mesmo espetáculo, mas sempre há um diferencial que é o que faz as pessoas se emocionarem”, disse.

DO BREJO AO SERTÃO

A tradição em representar os últimos momentos de Jesus Cristo é mantida há décadas em cidades do Brejo e do Sertão da Paraíba. É o caso do município de Pilões, que este ano celebra a 40ª edição da Paixão de Cristo, em Riacho de Santo Antônio, com a 36ª temporada no teatro João Capibaribe, e a cidade de Esperança, que em 2014 apresenta pela 15ª vez o espetáculo da fé no Clube Campestre. As apresentações acontecem entre hoje e domingo.

Localizada no Alto Sertão, Riacho de Santo Antônio conta a Via Sacra de Cristo através de 200 artistas, entre atores e figurantes, em nove palcos que representam cenários grandiosos da época de Jesus, como o Palácio de Herodes, o Fórum de Pilatos e o Templo de Jerusalém. Em cada apresentação que dura cerca de duas horas a organização estima a presença de até três mil pessoas que misturadas aos figurantes contribuem para o realismo do espetáculo da fé.

Já no Brejo, no município de Esperança, o grupo Jesus de Nazaré traz uma apresentação teatral com 70 pessoas no elenco musical em cinco cenas que vão da entrada de Jesus em Jerusalém até a sua morte e ressurreição. Segundo o diretor executivo do espetáculo, Franklin Costa Santos, “a cada ano que encenamos a dramaturgia bíblica da vida de Cristo, seus fatos mais importantes, sentimos que a população que acompanha o espetáculo emociona-se com o texto sacro associado com a performance teatral embalada com a música, a dança e com a ambientação cênica”, apontou.

Localizada na mesma região brejeira, a cidade de Pilões é um dos municípios que há mais tempo promove a Paixão de Cristo.

Há 40 anos o espetáculo é encenado sempre na sexta-feira santa, no final da tarde no largo da Matriz do Sagrado Coração de Jesus. Pela localização geográfica de Pilões, também conhecida como potencial produtora de flores, moradores de mais de dez cidades circunvizinhas prestigiam o evento que tem um público de cerca de quatro mil pessoas ao longo da apresentação. (Geovaldo Carvalho)