Abujamra apresenta monólogo no Santa Roza

Antônio Abujamra estreia em João Pessoa com espetáculo "A Voz do Provocador".

Tem uma investida clássica que os entrevistados de Antônio Abujamra ouvem ao final de seus bate-papos no programa Provocações: "Enforque-se na corda da liberdade". A proposta é feita às poucas cabeças que ainda têm alguma contribuição a dar, após uma breve conversa transmitida em horário nobre.

Quem for ao Teatro Santa Roza, hoje e amanhã, às 20h, esperando algo parecido, vai ver um Abujamra enforcando-se sozinho na corda da liberdade: é que o ator, diretor e dramaturgo vem a João Pessoa apresentar o monólogo A Voz do Provocador, uma espécie de aula-espetáculo, aquele gênero conhecido por aqui por meio das palestras anedóticas e já tradicionais de Ariano Suassuna.

O humor de Abujamra, porém, é bem mais ácido e contundente. Seu discurso corrosivo revela uma visão crítica do caráter (ou da falta de caráter) do brasileiro. Não raro, paira sobre o público um certo ar soturno que enche o teatro quando a voz empostada de Abujamra se pronuncia.

O palco, porém, é a sua casa. "Pergunte-me: o que você fez de bom nestes mais de 30 anos de televisão? Eu posso dizer: alguns segundos", já afirmou certa vez, se esquecendo de uma vasta galeria de personagens da qual se destaca o inesquecível Ravengar (leia mais sobre no box ao lado).

No cinema, o velho "Abu" também teve seus momentos, tendo trabalhado com o paraibano José Jof- fily em Quem Matou Pixote? (Brasil, 1996) e com diretores como Sérgio Biancchi, Carla Camurati, Júlio Bressane e Alain Fresnot.

Quase um patrimônio do teatro nacional (é um dos precursores de Brecht em nossa dramaturgia e foi contemporâneo ativo ao movimento do Teatro Oficina e do Teatro Brasileiro de Comédia), Abujamra segue vigoroso em uma carreira guiada pela utopia: “E para que serve a utopia? Eu dou um passo, o teatro dá dois passos. Eu dou dois passos, o teatro dá quatro passos. A utopia serve para isso: continuar caminhando”, filosofa o artista.