Antunes e Sérgio Britto e suas carreiras solo

Ex e atual integrante do Titãs acabam de lançar seus novos CD e falam sobre o andamento de suas carreiras longe da banda.

Arnaldo Antunes e Sérgio Britto se conheceram no colégio Equipe, em São paulo, nos anos 1970, quando começaram a compor música lado a lado, a quatro mãos. Um se tornou a figura central dos Titãs na década seguinte; o outro, o membro com mais canções gravadas pela banda em que é, hoje, um dos integrantes remanescentes da formação original.

Ambos acabam de lançar seus novos CDs e falam, em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA, sobre o andamento de suas carreiras solo e assuntos como a polêmica em torno da publicação de biografias não autorizadas no país.

Muito pouco em comum têm, à primeira audição, o Disco (Rosa Celeste/Radar/Natura Musical, R$ 24,90), de Arnaldo, e o Purabossanova (Som Livre, R$ 19,90), de Britto. Os registros se igualam, talvez, por um espírito coletivo que parece não se extinguir na trajetória dos dois artistas, mesmo em seus caminhos individuais.

“Quando você trabalha em uma banda durante um tempo você fica um pouco enclausurado. Quando eu faço coisas fora dos Titãs, eu gosto de trocar experiências com gente que eu admiro”, afirma Sérgio Britto, que chamou para acompanhá-lo, em sua incursão pela bossa nova, artistas de quem era fã, como Rita Lee e Luiz Melodia. “Foi um barato. Quando eu componho, sejam as letras, sejam os arranjos, eu costumo pensar nas vozes que caberiam ali e às vezes até ajusto o tom em função disso.”

Arnaldo, que desde Iê Iê Iê (2009) toca com a banda formada por Edgard Scandurra (guitarra), Chico Salem (guitarra), Marcelo Jeneci (teclado), Betão Aguiar (baixo) e Curumin (bateria), consolida a formação e traz para junto de si novos nomes como Céu, Hyldon, Luê e o também ex-Titã Nando Reis.

“Todos da banda, exceto o Edgard, são de uma geração mais jovem que a minha. Esta aproximação trouxe todo um universo de pessoas que têm os seus próprios trabalhos e acabaram acontecendo também", reflete Arnaldo.

NOSTALGIA X FUTURO

Conceitualmente, os trabalhos se identificam por um certo ar nostálgico confrontado por um quê de futurismo: Disco, que teve parte de suas faixas divulgada na internet, quis discutir o que representa um álbum em tempos de música virtual. Já Purabossanova dedica seu repertório à construção de um pop meio bossa nova ou uma bossa nova meio pop, como define Sérgio Britto.

"Eu faço algo mais ou menos nesse estilo há alguns anos", lembra Britto que, sozinho, já tem outros três discos de estúdio.

"Era algo que eu não conseguia aproveitar nos Titãs e que brotava de um desejo de construir um vocabulário próprio que me distinguisse da banda. Queria fazer um pop com elementos implícitos da bossa, dois ambientes de que eu gosto."

Segundo Arnaldo Antunes, a ideia inicial do seu 13º trabalho era reunir dois blocos de canções contrastantes: um bloco mais "sereno", gravado no Rio de Janeiro, e outro mais "pesado", gravado em São Paulo. Disco se chamaria, na verdade, Bipolar.

"Este ano eu estava em turnê do Especial MTV – A Curva da Cintura (2011), e queria lançar disco novo só no próximo ano. Mas abandonei essa ideia nas férias, quando fiz um grupo de canções mais pops que me entusiasmaram a entrar logo em estúdio", conta.

BIOGRAFIAS

Filho de um exilado político, Sérgio Britto aproveitou o novo repertório para gravar em espanhol, idioma no qual foi alfabetizado quando morou no Chile, durante a infância. Arnaldo agregou a faixas inéditas como ‘Morro, Amor’, feita em parceria com Caetano Veloso, a versão de ‘Mamma’, de Gilberto Gil, dois artistas que ultimamente estão no foco de uma batalha em torno da questão da publicação de biografias não autorizadas no Brasil.

"Olha, acho que rolou uma histeria um tanto exagerada por parte da mídia e dos escritores ao acusar os dois (Gil e Caetano) de censores em um debate sério que envolve questões como a liberdade de expressão e o direito à privacidade", diz Arnaldo Antunes, defendendo os colegas.

"Não tive o anseio de me alinhar ao ‘Procure Saber’ (associação que defende a necessidade de autorização de biografados ou herdeiros para a publicação de biografias), mas entendo, de qualquer forma, que uma causa que une Gil e Caetano tem que ser observada com atenção. Você faz censura a uma obra pública, defender sua vida privada é algo bem diferente. A questão é, no mínimo, mais complexa que esta coisa rasa que estão discutindo", complementa.

Sérgio Britto é mais enfático ao repudiar o que classifica como uma medida repressora e retrógrada: "É uma polêmica, um assunto controverso, mas, se eu for me ater ao básico, o fato de uma biografia só poder ser publicada com a autorização da família é um atraso para a vida cultural de um país. Porque você não ter como conhecer a história das figuras públicas de um país é um verdadeiro atraso", sublinha.

Britto apela, porém, para o rigor da Justiça na punição de quem viola a privacidade alheia: "Acho que o ponto nevrálgico da discussão é esse: o que tem que acontecer sim é um controle mais rígido da Justiça, para quem quer que cometa algum excesso seja devidamente punido."