As gerações de Jorge Amado

Comemorando os cem anos do nascimento de Jorge Amado, escritora Lúcia Fidalgo lança biografia infanto-juvenil ‘Jorge, o Amado Escritor’.

Em 100 anos, desde o seu nascimento, várias gerações de brasileiros cresceram lendo Jorge Amado, o 3º escritor nacional mais admirado no país, segundo pesquisa do Instituto Pró-Livro realizada no ano passado.

O autor, que em seu vasto romanceiro incluiu também livros infantis como O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá (de 1976, adaptado para o teatro, na Paraíba, por Duílio Cunha e Eleonora Montenegro), A Bola e o Goleiro (1984) e A Ratinha Branca de Pé-de-Vento e a Bagagem de Otália (publicado postumamente, em 2009), é um dos homenageados da 22ª Bienal do Livro, que começou ontem em São Paulo.

Lúcia Fidalgo, autora de Jorge, o Amado Escritor (Paulus, 16 páginas, R$ 16,00), lançado na programação da bienal, escreveu uma espécie de biografia infanto-juvenil dos primeiros anos de infância do ficcionista.

O livro foi publicado pela coleção Brasileirinhos, da editora Paulus, que a própria Fidalgo usa como suporte para contações de histórias. Segundo ela, apresentar Jorge Amado para crianças é fundamental para forjar nelas uma identidade nacional construída a partir de personagens marginalizados que não participam da história oficial.

"Jorge Amado, através de seus personagens, dá voz a quem não tem voz", afirma a autora, que não vê problemas em mostrar para os pequenos leitores a representação que Jorge Amado faz, em suas páginas, da contundente realidade tropical: "Ele é um brasileiro que fala do Brasil. Um Brasil sensual, político, extravagante, autoritário, simples. Este é nosso país e acho importante as crianças conhecê-lo do jeito que ele é".

Fidalgo admite que a obra de Jorge Amado tem sido explorada pela mídia de maneira a ressaltar sua faceta mais popularesca: "A mídia mostra e evidencia tantas coisas bobas, feias e chatas, e esconde os tesouros. Sua obra é grande e forte. Devemos compreendê-la como uma obra universal. Jorge não é um baiano que contou a Bahia, mas sim um autor que falou do Brasil".

O ator Thardelly Lima, que assina o projeto 100 Anos de Jorge Amado: Teatro e Educação, desenvolvido junto a escolas públicas de João Pessoa, concorda: "Muito se distorce da obra de Jorge Amado. Sem contar que, para ter chegado ao centenário, o espaço que ele hoje conquistou já era para ter sido conquistado há muito".

O integrante do Grupo Osfodidário está à frente da proposta, financiada pelo FMC, que pretende elaborar um material digital para ser distribuído entre estudantes pessoenses, que vão conhecer a obra de Jorge Amado nas escolas e vê-la depois encenada no teatro, em uma nova temporada do espetáculo Quincas, que estreou em janeiro, adaptado pelo diretor Daniel Porpino.

"As atividades serão seguidas de discussões sobre a vida e obra de Jorge Amado", explica Thardelly. "De início, a intenção era elaborarmos uma cartilha, mas achamos mais prático disponibilizar um material digital, possibilitando, depois, o contato ator e aluno. A ideia é que, com este levantamento, o público não vá tão ‘seco’ a Jorge Amado, sem saber que ele é".