Bom todo aos 90 anos

Aos 90 anos, ‘Zabé da Loca’ reúne cantores, compositores e músicos para celebrar seu aniversário neste sábado (18) em Monteiro.

“É a poesia que encontra uma pedra no meio do caminho e faz dela uma casa”, faz alusão o músico Totonho ao talento da tocadora de pífano Zabe da Loca, que comemora seus 90 anos de idade neste sábado, a partir das 19h, no Sítio Tungão de Santa Catarina, em Monteiro, no Cariri paraibano, residência da artista.

Aberta ao público, a festa, promovido pela Associação Cultural Zabé da Loca, terá a participação do próprio Totonho e de nomes como Escurinho, Cacau Arcoverde, Mazuca de Santa Catarina, João de Amélia e Trio Regional de Gaita, banda Anima Sono, além do forró pé de serra com Antônio Ferreira e o ‘momento de poesia’ com Zé Rosa e Edmílson.

“Será uma apresentação mais tribal”, conta Totonho, que vai lançar uma música especial para a região, um xote intitulado ‘Monteiro é o amor da minha vida’, composição dele junto com Dejinha e Flávio José.

Totonho relembra que Zabé foi ‘descoberta’ pela Coordenação de Ação Cultural da Secretaria de Reordenamento Agrário, em 1994, que vem mapeando as manifestações culturais do semi-árido nordestino, com assessoria da Fundação Quinteto Violado.

“O pessoal do Ministério do Desenvolvimento Agrário foi ao loteamento 001 e encontrou uma velhinha baixinha, que liderava uma banda de pífano no semi-árido, tomava uma cachaça como se fosse um mate qualquer e pitava cigarro.Parecia coisa de faroeste”.

Complementando a comemoração com a aniversariante, marcaram presença as bandas de pífano Alto do São Vicente, Pio X, Curumins da Serra e Manoel de Joana de Calamaú. “Haverá o coco improvisado”, informa Totonho. “Improviso mais rápido que a internet”.

NOVA GERAÇÃO

A herança da inegável habilidade de Zabé com seu pífano está garantida para outras gerações. Nas festividades serão apresentados jovens grupos como o Curumins da Serra, grupo na qual faz parte Alex Soares, adolescente de 18 anos que é um dos herdeiros (e súdito) da ‘Rainha do pífano’.

“Meu bisavô fazia parte da Banda Regional de Pífano de Santa Catarina”, conta Soares, que também mantém a chama desse grupo com mais quatro integrantes. “Estou seguindo a tradição pela importância que é cultivar a cultura de nossa terra”.

O jovem músico sempre visita Zabé da Loca. Alex Soares relembra que no dia do aniversário da artista – ocorrido na última segunda-feira – tocou para ela, que não se contentou apenas em ser uma ouvinte e tirou som do instrumento popular que fez sua fama.

Zabé nasceu nos arredores de Buíque, Pernambuco, e veio com 16 anos para a Paraíba, onde por 25 anos residiu em uma loca na Serra do Tungão, o que lhe rendeu seu nome artístico.

Há quase dez anos vive no assentamento Santa Catarina, em uma casa que ganhou do Incra no processo de reforma agrária da região.

Lançou seu primeiro disco em 1995, cuja algumas faixas fez parte de uma coletânea japonesa chamada Nordeste Atômico.

Em 2009 recebeu o prêmio de Revelação da Música Popular Brasileira. Colecionando diplomas importantes e honrarias, Zabé viajou por todo o país com seu pífano, dividindo os palcos com Hermeto Pascoal, Gabriel o Pensador, Cabruêra, dentre outros.

Em 2008, com produção musical de Carlos Malta, foi lançado o segundo trabalho, que pegou emprestado para seu batismo o termo que Zabé sempre gosta de falar: Bom Todo, cuja a maioria dos temas foi composta por ela.