Carlos Malta & Pife Muderno é o CD dos 20 anos do grupo instrumental

Músico conta ao JP como ‘arregalou os olhos’ dos chineses em show com o Pife Muderno que acaba de sair em CD duplo.

“Muitos me perguntam se será um DVD. Aí, eu respondo: é um CD, mas você vê tudo!”, comentou, aos sorrisos, Carlos Malta, quando fez um show solo no começo de fevereiro, em João Pessoa, sobre o disco duplo que está saindo agora: Carlos Malta & Pife Muderno – Ao vivo na China (Delira Música), comemorando duas décadas do grupo instrumental.

“É a mais pura verdade”, comenta Malta em nova entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA. “As pessoas falam: que som é esse? A gente vê tudo que acontece no show!”. Apresentação foi feita no Teatro da Cidade Proibida, em Pequim, na China, em 2011. “Fomos em missão diplomática, convidados pela embaixada do Brasil. Foi uma expedição de uma semana. Ficamos mais tempo voando do que no chão”, relembra o carioca.

Além da direção musical e arranjos, Carlos Malta assina a produção ao lado de Marcos Suzano e João Damaceno. Dentre a “boa e má notícias” antes do espetáculo, o grupo não tinha à sua disposição uma mesa de retorno, mas em compensação poderia “gravar o show com uma qualidade ‘quase’ visual”.

Junta-se às flautas uruá, pifes, a chinesa di-zi, flautas baixo, em dó e sax soprano de Malta, o som de Andrea Ernest Dias (pifes, bansuri, flauta baixo em dó e em sol), Oscar Bolão (percussão), Durval Pereira (zambumba), Marcos Suzano e Bernardo Aguiar (ambos no pandeiro).

Com um público de 1200 pessoas, na sua maioria esmagadora de chineses, segundo Malta, a plateia foi envolvendo o Pife Muderno com aplausos logo de cara – bem antes de soprar a primeira nota – quando Carlos apareceu no palco com uma uruá, uma flauta indígena muito grande.

Dividido em duas partes, na segunda, Malta lembra que os chineses já estavam no embalo, entrando no compasso e se empolgando com o repertório. “Os chineses já estavam de olhos arregalados”, conta. “Estamos falando de um país que tem a cultura da flauta de bambu e transversal fortíssimas”.

Voltando sobre a energia visual do som do grupo, Malta lamenta não ter nenhum registro apesar da “verdadeira Muralha da China” de câmeras e celulares apontados pelo público.

A globalização não era só protagonizada pelos instrumentos e pela plateia: até a Paraíba foi representada pelo Jackson do Pandeiro com as versões de ‘Chiclete com banana’ e ‘Canto da ema’ em um repertório onde ainda se encontra Gonzagão (‘Asa Branca’, ‘Que nem jiló’ e ‘Assum preto’) e Edu Lobo (‘Ponteio’).

“Eu sou o carioca mais nordestino que conheço. A minha natureza musical e minha base é calcada no Nordeste”, afirma Malta. “Com isso, colocamos mais um grão – um elemento novo – naquela sabedoria toda, que é o berço da civilização”.
Há também muita interatividade não planejada e orgânica do show quando o Pife Muderno insere clássicos como o ‘Bolero de Ravel’, ‘Brasileirinho’ e ‘Aquarela do Brasil’.

Em turnê pelo Brasil, Malta e cia. já fez apresentações no Rio de Janeiro e já tem São Paulo no mapa, mas o músico não esconde a vontade de trazê-la para o Nordeste.