Com o mundo nas suas mãos, artista lança coletânea literária

Renomado artista visual paraibano, José Rufino envereda pelo universo das letras com o lançamento da coletânea ‘Afagos’

Renomado artista visual paraibano, José Rufino envereda pelo universo das letras com o lançamento da coletânea ‘Afagos’

“Conquistar outro campo de linguagem”, resume o artista visual paraibano José Rufino sobre sua primeira coletânea literária, Afagos (Cosac Naify, 208 páginas, R$ 29,90). “Com algumas palavras posso ter o mundo nas minhas mãos”.
A obra reúne mais de 100 textos que podem ser descritos como microcontos ou pequenos contos. “Tinha a necessidade de tratar de muitos assuntos. Dramas humanos como o medo, o abandono, a desilusão, a saudade e até o universo corporativo. A grande vantagem é essa: poder ir pra qualquer lado”.
Em São Paulo, o autor lança o livro neste sábado, na Livraria Cultura da Av. Paulista, a partir das 16h. Já está agendado também uma sessão de autógrafos na Cultura do Recife, no dia 16 de maio. Na Paraíba, Rufino ainda não tem uma data de lançamento.
De acordo com José Rufino, a gênese de Afagos veio por causa de outro projeto oriundo de uma bolsa de Criação Literária da Fundação Nacional de Artes (Funarte) que o paraibano ganhou em 2009 para fazer uma romance. Os primeiros passos – ou seriam escritos? – começaram no outro ano, com uma versão entregue à Funarte do livro denominado Reviver, ainda inédito. Porém o tema tão caro ao autor foi tomando uma proporção igualitária à importância das suas reminiscências.
“Não consegui para o romance”, revela. “É quase uma biografia por ser tão único e tratar da retomada do ciclo canavieiro. Sim, já fui um ‘menino de engenho’”, referindo-se ao icônico romance regionalista do conterrâneo José Lins do Rego (1901-1957).
Ao longo do exercício de escrever um romance, Rufino diz que sentiu a necessidade de estudar e escrever contos por ser uma obra muito rebuscada e narrada em primeira pessoa. “Escrevia contos à princípio grandes, mas fui reduzindo e reduzindo… É quase um desafio de escrever ao contrário”.
Sobre o amálgama entre o artista visual e o escritor, José Rufino aponta que um lado alimenta o outro, apesar de não esquecer que são formas distintas. “É um mundo que se abre pra mim, inclusive um mundo de novas cobranças”.
Tanto que, além da capa, a publicação não possui nenhuma imagem de autoria do paraibano. “O próprio texto já leva às imagens, não cabia nenhuma ilustração”.
Apesar de apresentar temáticas mais distantes ou totalmente ao contrário de ‘afagos’ literários, o batismo do livro veio de um dos microcontos que Rufino julga especial para ele mesmo.
“O leitor/espectador percorre com os olhos, com o corpo, o silêncio e a solidão da obra, compondo sua própria história singular, marcada por identificação ou por contraste, nunca por apatia. Porque o que Rufino nos propõe é uma releitura da vida mergulhada na inautenticidade, arrastando-nos para longe da alienação e da mediocridade”, atesta o romancista paulistano Luiz Ruffato, autor de Eles Eram Muitos Cavalos (2001), na orelha de Afagos.
“Ele é um cara muito polêmico e um escritor muito atuante”, diz Rufino. “Acho que ele entendeu muito bem a proposta e levantou questões importantes”.
‘DOGMA’
Na sua passagem por São Paulo, José Rufino também vai lançar no dia 7 de abril uma exposição intitulada Dogma, que permanecerá em cartaz na Central Galeria de Arte.
“É uma reunião de obras de meus 30 anos de exposições”, explica. “Um retrospecto dos trabalhos, mas também um retrospecto ideológico na arte, a exemplo de Marx, Darwin e Rorschach”.
Na ocasião do vernissage, Rufino também vai distribuir um conto longo de sua autoria chamado Gravura, que foi publicado em uma edição da Palavra, revista de literatura do Sesc. Desta vez impressa em papel rústico, a obra será relançada na forma de um panfleto.