De volta para o futuro

Novo disco do RPM, marca o retorno de uma das bandas de maior sucesso na década de 80.

O RPM está de volta, mais uma vez. Agora com disco novo, Elektra, o primeiro de inéditas desde Quatro Coyotes (1988). De lá para cá, o grupo formado em São Paulo em 1983 e dissolvido no início dos anos 1990 só ensaiou um retorno, em 2002, quando lançou o projeto MTV RPM, que não segurou o quarteto muito tempo.

A formação clássica com Paulo Ricardo (voz e baixo), Luiz Schiavon (teclados e programação), Fernando Deluqui (guitarras e violões) e Paulo P.A. Pagni (bateria) volta com disco e turnê novinhos em folha, mas com conceitos que o grupo construiu lá atrás, nos anos 1980.

Elektra, que sai pelo selo de música eletrônica Building Records (preço médio, R$ 34,90) é um ótimo projeto de retomada. O repertório aposta num syntepop retrô, reciclando, com timbres e arranjos modernos, conceitos e sonoridade cavada dos anos 1980.

“Acho que a ideia é esta mesma”, confirma Luiz Schiavon ao JORNAL DA PARAÍBA, por telefone. “É a mistura da tecnologia atual com a coisa vintage. A gente usa novas timbragens, novos loops de bateria somados à sonoridade clássica, aos sons de teclado dos anos 80, à pegada de guitarra indie”, explica.

Para o músico, o novo disco reflete a sonoridade construída pelo RPM ao longo da carreira. “Eu acho que todo mundo está maduro o suficiente para ter suas próprias referências”, comenta.

“Quando você é bem novo, fica buscando referências, soar como guitarrista tal, ou como banda tal. Mas depois de 30 anos de carreira, você fica um pouco imune às influências. Eu posso ouvir tudo que tem de mais novo na música eletrônica, passar uma semana ouvindo David Guetta, mas eu não vou fazer uma programação igual à dele”.

Em suma, Elektra é um disco de música eletrônica com um pé no rock industrial e outro na estética pop. “A música eletrônica é uma coisa natural pra gente. Está no DNA do RPM”, afirma o tecladista. “Fomos a primeira banda a levar computadores para o palco. Era, até, uma coisa perigosa. O primeiro disco da gente (Revoluções por Minuto, de 1985) já tinha sintetizadores, fora que fomos a primeira banda a fazer remix no Brasil”.

RETOMADA
A retomada do RPM aconteceu em 2008, quando o grupo se reencontrou para lançar a caixa Revolução! (Sony Music), que celebrou os 25 anos de carreira reeditando os três discos da banda, mais um DVD inédito. Também foi o ano em que a Rede Globo dedicou o programa Por Toda a Minha Vida à banda. Foi a senha para o grupo começar a trabalhar neste Elektra.

Um belo estojo digipack de quatro abas acomoda dois discos e o encarte, recheado com fotos atuais do quarteto e letras das músicas. São 12 faixas inéditas no disco principal e um CD bônus com sete delas, remixadas para as pistas.

Todas as canções são inéditas e foram trabalhadas nos últimos três anos. “A gente até tinha umas coisas de baú, mas preferimos começar do zero”, revela Schiavon, parceiro de Paulo Ricardo na esmagadora maioria das faixas.

“A gente tem essa parceria de 30 anos. Quando eu comecei a compor com Paulo, eu tinha 19 e ele, 15 anos. Então é uma coisa muito natural pra gente”, acrescenta o tecladista. “A gente não se envergonha de mostrar bobagens um pro outro. Abre os trechos, as ideias musicais e vamos trabalhando a quatro mãos. Eu faço o esqueleto do arranjo e ele vem com os temas, as letras. E tudo muito orgânico e fácil de fazer”.

CREPÚSCULO
‘Dois olhos verdes’ abre o CD com batida pulsante, teclados que poderiam ter feito sucesso com Depeche Mode e refrão pegajoso. E os temas mostram que o RPM continua o mesmo, do tom político sobre o excesso de informação do mundo 2.0 (‘Muito tudo’) à saga teen dos vampiros Edward e Bella (‘Crepúsculo’), passando pelas loiras geladas de ‘Problema seu’ e ‘Deusa das águas’.

A reportagem perguntou à Schiavon qual dos quatro era fã da Saga Crepúsculo, a ponto de ser tema de uma música do RPM.

“Não é exatamente sobre a Saga Crepúsculo”, rebate o tecladista. “É mais uma citação que o Paulo usou, junto com outras referências, como Vampirella, que é dos quadrinhos. É sobre o pessoal que vai pra balada e chega às 11h da manhã em casa… acho que isso tem algo de sobrenatural, especialmente nas grandes metrópoles”, acrescenta Schiavon.

TURNÊ
A turnê do novo disco é anterior ao lançamento do CD. Começou em maio do ano passado e até passou por João Pessoa (em julho, no Jacaré Pop), totalizando 70 apresentações ao longo de 2011. No show, três toneladas de cenário e equipamento dão vida à nova cara do RPM, com seu eletro-rock industrializado, cenários de Zé Carrutú e direção de Ulysses Cruz.

A banda que inovou nos anos 1980, com cenários, figurinos e efeitos especiais do outro mundo, prefere agora algo mais orgânico, segundo Luiz Schiavon. “Saímos na contramão disso”, responde o tecladista. “Hoje ficou banal ter mega-telão e efeitos 3D, então a gente foi pro lado oposto. Nosso cenário é mecânico, tem elevador, é bem industrial, usando essa referência do moderno e o vintage. Afinal, não vou entrar numa disputa com o U2 para ver quem tem mais tecnologia”, brinca.

Em maio, o RPM registra o show para lançá-lo em DVD no segundo semestre. E pretende aumentar o número de apresentações. Schiavon, que se confessa fã de João Pessoa, quer muito voltar por aqui. “João Pessoa é uma cidade que eu adoraria morar. Passo férias aí e adoro a comida e o clima”.