Entranhas da loucura

Protagonizado pelo homem-morcego, álbum do escritor escocês Grant Morrison será lançado este mês no Brasil.

“Não é uma história do Batman”, já avisava o escritor escocês Grant Morrison no final de 1989 sobre seu álbum protagonizado pelo Homem-Morcego, que pegou carona com o sucesso da versão cinematográfica gótica do personagem por Tim Burton.

Está sendo lançada neste mês no Brasil a edição definitiva de Asilo Arkham – Uma Séria Casa em um Sério Mundo (Panini, 17 x 26 cm, 216 páginas, R$ 60,00), um dos primeiros trabalhos de super-heróis de Morrison e do ilustrador inglês Dave McKean (responsável por assinar as capas da cultuada série Sandman).

A obra mostra os internos do hospício de Gotham City fazendo um motim liderado pelo Coringa. Tomando os funcionários como reféns, eles exigem a presença de Batman.

Além de enfrentar sua galeria de inimigos, o herói precisará confrontar a si mesmo, já que o risonho arqui-inimigo acha que seu lugar é no asilo, reclamando a sua camisa de força.

Paralelamente, os autores revelam as origens do lugar com a trágica história de seu fundador, Amadeus Arkham.

Considerado o álbum mais vendido da história dos quadrinhos do gênero na história, com mais de meio milhão de exemplares, Asilo Arkham ficou famoso pela conotação homossexual que Morrison deu ao Coringa, que usa salto alto e pede para Batman relaxar inusitadamente apalpando suas nádegas.

A abordagem sombria oferecida por McKean combina várias técnicas em uma época pré-computador e Photoshop, que vai desde pintura, desenhos sem arte-final, colagens e uso de fotografias.

Outra curiosidade na sua arte é a maneira que retrata o Batman em Asilo Arkham, sempre envolto em sombras e não definido fisicamente.

Seu amigo Neil Gaiman (autor de Sandman e que trabalhou com o artista em HQs como Orquídea Negra, Violent Cases, Mr. Punch e Sinal e Ruído) chegou a afirmar que, na verdade, McKean não queria desenhar o personagem.

Grant Morrison, que na época estava começando a ficar popular por revitalizar o super-herói do segundo escalão chamado Homem-Animal, faz uma análise psicológica usando os personagens. Nas páginas da obra, ele acrescenta elementos como o clássico Alice no País das Maravilhas (com citações que abrem e fecham a história), simbolismos como as cartas de tarô (usado pelo vilão Duas-Caras em troca da sua moeda para aumentar o leque de escolhas das suas decisões), personagens reais como o fundador da psicologia analítica Carl Jung e o mago Aleister Crowley, além do clássico cinematográfico de suspense Psicose (cujo ator, Anthony Perkins, que vivia o protagonista Norman Bates, ficou fã do álbum).

ROTEIRO NA ÍNTEGRA
O álbum foi lançado no Brasil em 1990, pela editora Abril Jovem, e em 2003, pela Panini, mas sempre de modo convencional, em capa cartonada.

A nova edição de luxo em capa dura conta com uma série de extras, que consiste no roteiro completo e comentado pelo escritor escocês, posfácio da editora original Karen Berger e storyboards de Morrison que pouco foi aproveitado por Dave McKean.

São nos comentários do autor que revela muito dos bastidores do Asilo Arkham. Entre as curiosidades, haveria a participação do Robin, que foi sumariamente vetada pelo McKean. De acordo com Morrison, ele disse que desenhando o Batman já estava comprometendo sua integridade artística, o que reforça a afirmação de Neil Gaiman que ele não queria desenhá-lo.

Outro ponto era que o Coringa estaria vestido como a Madonna no videoclipe ‘Open your heart’, mas a ideia foi vetada pela editora (essa concepção pode ser vista nos esboços de Morrison nos extras).

Também é evidenciada nos comentários a complexidade do enredo e a forte alusão psicológica que o asilo, na verdade, é uma cabeça povoada por esses personagens. Ou seja: não é uma história de Batman.