Folia de jazz, blues e rock

Criado há 6 anos, o ‘Garanhuns Jazz Festival’ vem se consolidando como programa alternativo ao Carnaval em Pernambuco.

A não ser por uma marchinha solitária aqui e ali em um bar quase vazio, praticamente não dava para perceber que era Carnaval na cidade de Garanhuns (PE), a 240 km de Recife e outros 210 km de Campina Grande. Lá, a batida era outra.

Criado há 6 anos com o intuito de movimentar a charmosa cidade no agreste pernambucano durante a Folia de Momo, o Garanhuns Jazz Festival vem se consolidando como prestigiado programa alternativo ao Carnaval do samba, axé e frevo com música sofisticada e a presença de renomados artistas de dentro e fora do país.

A programação atual, completamente gratuita, abrange dois polos: diurna no belíssimo parque Ruber Van Der Linden e noturna na Praça Guadalajara, onde também é realizado o Festival de Inverno.

Utilizando uma estrutura um pouco menor (a mesma da praça de alimentação do tradicional festival da cidade), o GJF recebe quatro shows por noite, nos quatro dias de Carnaval – de sábado a terça-feira.

“No começo, muita gente achou que iria dar errado, que era exótico”, declarou o idealizador do festival, o músico e produtor Giovanni Papaleo. Com um público avaliado entre cinco e oito mil pessoas por noite, o evento já é sucesso por parte da organização e anima a prefeitura da cidade, patrocinadora do festival, a ampliar o GJF em 2014.

“Quero aumentar o número de polos no ano que vem”, decreta o prefeito Izaías Régis, aventando a possibilidade de incluir uma programação de bossa nova ao festival de jazz que já comporta blues e rock.

Embora tenha assumido a prefeitura há pouco mais de um mês, Régis é um velho conhecido do GJF. Quando deputado estadual, foi um dos primeiros políticos a incentivar o evento. “Cheguei a tirar recursos do meu bolso para realizar o Garanhuns Jazz Festival”, comenta.

Hoje, o prefeito celebra o custo/benefício de apoiar um evento como esse. “Com R$ 20 milhões, o Festival de Inverno não dá o retorno que o Garanhuns Jazz Festival – que nem chega a R$ 1 milhão – dá para os hotéis, para o turismo da cidade”, revela o prefeito, que na segunda-feira já tinha computado uma ocupação de 80% na rede hoteleira da cidade.

ARTISTAS LOCAIS
Eric Faustino, morador de Garanhuns e instrutor de percussão do grupo Batuque, aposta que a maior parte do público do GJF é formado por turistas, mas observa que os moradores da cidade estão cada vez mais deixando de viajar no Carnaval para prestigiar o festival.

Por outro lado, o músico atesta que o Festival de Jazz de Garanhuns tem beneficiado os músicos locais e estimulado o surgimento de uma cena autoral baseada em jazz, blues, MPB e ritmos percussivos, como o Batuque.

“No Festival de Inverno, a gente toca no palco da cultura popular. É uma vitrine, mas você corre mais atrás. Aqui a gente toca no palco principal e está mais em contato com empresários, com artistas”, comenta Eric, que este ano compartilhou o palco com os bateristas Claudio Infante (RJ) e Douglas Las Casas (SP) e em anos anteriores, com Carlos Balas e Robertinho Silva.

Com Silva, aliás, Eric Faustino chegou a gravar um CD, ainda inédito, graças à aproximação que teve com o músico carioca através do festival.

DO ROCK AO JAZZ
O Garanhuns Jazz Festival é mais abrangente que seu título. Nesta edição, predominou o blues e o rock, regados a instigadas jam sessions. O roqueiro Tico Santa Cruz (Detonautas) fechou a primeira noite em uma grande festa ao lado do guitarrista Kiko Loureiro (Angra), do saxofonista norte-americano Warren Atiba Taylor e do gaitista Jefferson Gonçalves.

As “jams” renderam encontros inusitados. A carioca Taryn Spillman encerrou seu show chamando ao palco Kiko Loureiro e a garotada do Batucada para uma versão maracatu de ‘Black dog’, clássico do Led Zeppelin. Teve também as versões do Jazzpira para clássicos da música caipira, como ‘Majestade o sabiá’ – confira outros momentos ao lado. (*O repórter viajou a convite do festival)