Galeria Archidy Picado reabre com obras de Portinari, Di Cavalcanti e Volpi

Com obras do acervo do Santander, ‘Narrativas Poéticas’ marca reabertura da galeria Archidy Picado, em João Pessoa.

A arte poética das palavras escritas rompe o silêncio da poesia presente nas pinturas. Os traços, que antes já falavam por si só, ganham o apoio de versos da literatura brasileira para leitura e apreciação. Narrativas Poéticas, coleção Santander Brasil traz o diálogo entre duas expressões culturais diferentes quanto definição, mas tão próximas no campo da concepção artística.

A exposição marca a reabertura da Galeria Archidy Picado, no Espaço Cultural José Lins do Rego (Tambauzinho) e fica em cartaz até dia 16 de agosto. A visitação pode ser feita de segunda a domingo, das 8h às 18h.

Um quadro de Candido Portinari divide espaço com um verso de Augusto dos Anjos. Na mesma direção, mais obras de Alfredo Volpi, Emiliano Di Cavalcanti e Cícero Dias e poemas de Carlos Drummond de Andrade e Archidy Picado Filho.
Fragmentos de textos se fundem com as telas expostas, sem apagar o brilho e a importância das duas expressões. Segundo a curadora geral da mostra, Helena Severo, a presença das poesias “não invade os espaços das obras”.

Do vasto acervo da coleção Santander Brasil, foram escolhidas algumas pinturas e esculturas. Após a catalogação, conservação, pesquisa e definição do fio condutor da exposição, o poeta, filósofo e ensaísta Antonio Cicero, em parceria com o também poeta Eucanaã Ferraz, entrou em cena para a seleção dos fragmentos de poemas para compor a mostra. “A partir da seleção das obras, nós escolhemos poemas que pudessem fazer o espectador pensar um pouco mais sobre a tela”, explica Cícero.
De acordo com o poeta, os textos não explicam os quadros e esculturas expostas. A ideia de colocar esses trechos dentro da exposição é fazer com que o público passe mais tempo admirando uma determinada pintura.

“Existem duas maneiras de apreciar uma obra de arte: superficialmente ou profundamente, mergulhando dentro delas e viajando pelas linhas. Os poemas não interpretam essas obras. Quando colocamos os dois juntos, esperamos que o público passe mais tempo apreciando o que está exposto”.

Ao todo, são 34 obras de 26 artistas acompanhadas por 40 fragmentos de poemas, de 24 poetas brasileiros. “Cada cidade recebe o que é possível receber, dependendo do local. A preocupação para João Pessoa é mostrar o que nós imaginássemos que fosse de mais relevante para estabelecer o diálogo com esse conjunto de poetas importantes na história da poesia brasileira, inclusive temos dois poetas paraibanos aqui, na exposição”, explica Helena Severo.

Para o secretário de cultura da Paraíba, Lau Siqueira, Narrativas Poéticas traz um recorte de importantes períodos da história da arte brasileira. “Nós estamos reabrindo a galeria com uma exposição extremamente significativa que, com certeza, vai nos enriquecer muito e vai nos colocar dentro de um roteiro mais amplo de divulgação artística nacional”.

A presidente da Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc), Maria Lúcia, diz que com a reforma da galeria, o Estado está abrindo portas para exposições de grande porte. “Nós hoje temos condições e um espaço adequado para trazer exposições desse nível aqui para a Paraíba. Na ‘Narrativas’ nós temos não só artistas plásticos ou um Brecheret, com seu trabalho de escultura de alta qualidade, mas temos também poetas dialogando e uma linguagem de exposição totalmente inovadora”, afirma.

Ela também destaca a relevância da ação educativa. Dentro do projeto da exposição, professores de arte da rede pública de ensino receberam lições de monitoria para guiar visitas na galeria durante a mostra.

A galeria Archidy Picado completou 30 anos de fundação este ano. Desde sua inauguração, já abrigou exposições de artistas renomados, a exemplo de Maria Bonomi e Anico Herskovicz.

Após Narrativas Poéticas, a galeria já tem agendada a exposição Esdrúxulo, sobre a obra de Augusto dos Anjos. “Os curadores da Casa das Artes vão recriar a exposição aqui em nosso espaço. Daqui pra frente, nós teremos uma nova vida para oferecer à população, com relação as artes visuais. A gente estava devendo isto à Paraíba”, conclui Maria Lúcia.

Confira algumas obras em exposição