Garagem hermética fechada para sempre

Quadrinista francês ‘Moebius’, que lutava há anos contra um câncer, morreu neste sábado (10) aos 73 anos.

Nos anos 1970, o francês Jean Henri Gaston Giraud quis assinar com outra alcunha quando decidiu expandir seu universo para as histórias em quadrinhos de ficção científica e fantasia. Nascia ‘Moebius’, nome que pegou emprestado da ‘fita de Möbius’, espaço topológico descrito pelo matemático alemão August Ferdinand Möbius.

"Tenho dois polos, dois gestos. Quando estou na pele de Moebius, tento fugir do meu ‘eu’, desenho em estado de transe", chegou a explicar na Moebius-Transe-Form, primeira grande exposição de seus trabalhos realizada em Paris, no ano passado. Não é à toa que rezava a lenda que Moebius, nos trabalhos solos, rabiscava primeiro para depois saber os rumos do enredo.

No último sábado, dia 10, a sua luta de anos contra um câncer chegou ao fim, aos 73 anos. A sua morte foi confirmada através de sua mulher, Isabelle, e sua filha, Nausicaã.

Dono de um estilo próprio inconfundível, apesar de mutável, o quadrinista ultrapassou as fronteiras francesas e – como o espírito revolucionista que brota da sua terra natal desde o século 18 – agrupando a cada dia uma legião de profissionais que usam seus traços como inspiração. Desde o norte-americano Frank Miller com seu futurista Ronin até o paraibano Shiko com suas HQs independentes.

“Quando li A Garagem Hermética sabia que ele me influenciaria pelo resto da vida”, admite Shiko. “Seja pelo absurdo da narrativa ou pela capacidade criativa dos cenários.”

Antes de seus panoramas atemporais e surreais de outros universos, nos anos 1960, o francês retratava as pradarias do Velho Oeste através das aventuras do anti-herói Mike Blueberry, herança dos vínculos com o México, onde chegou a viver ao lado de sua mãe.

ALÉM DO PAPEL
Em 1974, Moebius foi um dos fundadores da Humanoïdes Associés, uma das mais importantes editoras europeias, que lançou, no mesmo ano, a Métal Hurlant, revista de ficção científica e fantasia.

O nome de Moebius não se restringe apenas nas capas dos álbuns. Empregou sua criatividade nos designers e storyboards de filmes como Alien (1979), Tron (1982), O Segredo do Abismo (1989) e O Quinto Elemento (1997).

Moebius chegou a trabalhar em uma adaptação cinematográfica que nunca saiu do papel do romance Duna, ao lado do amigo Alejandro Jodorowsky, cineasta e escritor chileno que criou junto com ele obras como Incal (veja crítica na página 5).

A ligação com o Brasil vem através do romancista Paulo Coelho – que lamentou a morte no seu blog –, com uma transposição para os quadrinhos do best-seller O Alquimista.