Gastronomia: ‘Ela não cozinha nem um ovo’ e o desafio de fazer um ovo pochê

‘A pessoa que disse isso pela primeira vez certamente estava falando do ovo pochê’.

Gastronomia: 'Ela não cozinha nem um ovo' e o desafio de fazer um ovo pochê

Comecei a estudar Gastronomia porque eu não cozinhava nada – nem um ovo – e, então, não sabia administrar a cozinha tampouco os cozinheiros da minha empresa. Decidi a Graduação pela grade e, no dia seguinte, estava fazendo um vestibular agendado. Jornalista, passei raspando em redação, então imagine o que veio depois com a Gastronomia ardendo pra mim numa panela quente?

Aquela pessoa que disse, pela primeira vez, “ele não cozinha nem um ovo” para designar um mal cozinheiro – ou um cozinheiro não habitual – certamente estava falando do ovo pochê. No início do curso, logo na primeira ou segunda aula da graduação em Gastronomia, um dos meus professores apresentou seu plano de aulas e listou, entre as práticas, uma aula todinha sobre ovos. E, entre os ovos, haveria o pochê.

Eu fiquei me perguntando o porquê de uma coisa tão simples quanto o ovo ser motivo e tema de uma aula inteira. Mexido, cozido e estrelado… todos eles eu já vi. Então, é claro, resolvi começar – bem arrogante – por um tipo que era diferente para mim, na época. Pois é. Eis que foram oito ovos de lá pra cá (oito!), todos jogados no lixo.

Foram dois dias de tentativas e uns bons minutos de raiva e frustração. Em 20 segundos, o cara do You Tube resumia a técnica e dava dicas: “ovo novo, panela funda, água fervendo, vinagre, redemoinho”. Redemoinho é o cacete. Ódio! Para eles, é tudo tão fácil. Para mim, perdoe-me o palavreado, mas era f***. E ainda é. Olhe, não há nada que eu tenha vivenciado na vida que seja tão frustrante e paradoxalmente apaixonante quanto cozinhar.

Eu sei, não tenho talento nenhum. Mas todos os dias aprendo um pouco. Especialmente, sobre paciência. A comida tem o tempo dela, o jeito dela de se combinar. E, se a gente não prova, não espera, não se rende, a gente não aprende, não realiza. Engraçado que, depois de muita resistência, fiz meu primeiro pochê. E fiz o segundo também – não dava para confiar só no primeiro. Inclusive, saiu agora da panela. É uma vitória. Pequenininha. É quase nada. Mas, pra mim, poxa, foi grande.

* Maria Livia Cunha é jornalista, bancária, empresária, pós-graduada em Administração e graduada em Gastronomia e compartilha suas experiências na cozinha nas sextas-feiras de janeiro no Jornal da Paraíba.