Gastronomia: ‘Quando a boca enche d’água’ e o nariz que precisou entender de comida

‘Comer é, além de um ato mecânico, uma experiência sensorial’, provoca Maria Lívia Cunha.

Gastronomia: 'Quando a boca enche d'água' e o nariz que precisou entender de comida

Mais pra frente, na Gastronomia, eu já sabia mais ou menos o que era “clássico”. O problema foi quando solicitaram que eu usasse, com consciência, o meu olfato. Putz! Meu nariz sabia o que era comida, mas nunca tinha sido convidado a entender de qual delas se tratava. Dava para identificar, no máximo, um milho cozido, o cheiro de uma jaca. As nuances suaves, as notas, as nozes, a gente só percebe se para, se presta muita atenção.

Presta atenção. Comer é, além de um ato mecânico, uma experiência sensorial. Organoléptica – quer dizer que mexe com todos os sentidos. Primeiro, a comida chega perto da gente e a visão percebe essa presença. Olhando, a gente encontra as cores e as texturas dos alimentos – o crocante, macio, cremoso, firme, maduro, brilhante, assado, tostado, vibrante. É aí que a boca enche d’água. É o pontapé de um processo de associações verdadeiramente sensuais que a gente não controla.

Quando o prato repousa, os cheiros se misturam em uma sinfonia de aromas que a maioria de nós não sabe dizer quais são. Aí no bico, na ponta dos dentes, o tato também faz seu trabalho e a língua finaliza a experiência pelo paladar – doce, amargo, ácido, salgado. Comer é complexo quando se presta atenção. É complexo como uma coisa conversa tão bem com a outra, harmonizadas em um intenso equilíbrio constituído desde o berço, lá atrás, no início da cadeia produtiva. Se a gente para, garanto, a gente percebe tudo isso.

O problema tem sido esse mesmo… parar.

* Maria Lívia Cunha é jornalista, bancária, empresária, pós-graduada em Administração e estudante de Gastronomia e compartilha suas experiências na cozinha nas sextas-feiras de janeiro no Jornal da Paraíba