Inácio da Catingueira e Emicida. Poetas, negros e oprimidos, de diferentes formas, separados por mais de 100 anos, agora se fundem. O encontro acontece no novo single do rapper, lançado nesta terça-feira (18), que leva o nome do lendário escravo e cantador paraibano. Na música, Emicida faz um paralelo entre a luta travada por Inácio e sua trajetória de ascensão no mundo do rap.
Nascido na cidade de Catingueira, no Sertão da Paraíba, quando ela ainda era um povoado, Inácio era escravo e analfabeto. Ele fez uso da própria arte para enfrentar a escravidão, seu talento poético ajudou a lhe garantir a liberdade, segundo historiadores. Ele não era impedido de se ausentar da fazenda em que vivia e era dono de tudo que conseguia a partir das cantorias. O maior feito foi dele foi derrotar o maior repentista da época, Romano da Mãe D’Água, depois de uma batalha que durou oito dias na cidade de Patos. Inácio morreu em 1879.
“Inácio me inspirou por romper as correntes e trazer em si a dor e a delícia (se é que essa é a palavra certa) de transcender o senso comum”, afirma Emicida. “Inácio parece uma resposta, mas é um convite à reflexão, sobre quem são os reais inimigos dos que dizem lutar por igualdade mas gastam seu tempo, munição e energia dando tiros em espelhos, que refletem a si mesmos”, reforça o rapper.
Rebates às críticas
Além de pontuar os triunfos da carreira de Emicida, ‘Inácio da Catingueira’ soa como reposta às críticas que o rapper sofreu desde que entrou no mercado. Mas ele deixa claro que a música não é uma ‘diss’, como são conhecidos os raps feitos para atacar alguém. “Num país onde os políticos diz o que diz/ Essas porra de disse, pra mim é igual Bee Gees/ Fofinho, querendo confete/ No fim das conta é a mesma merda/ Só o sistema brincando de marionete”, canta ele na música.
‘Inácio da Catingueira’ tem uma das linhas de versos mais incisivas da discografia de Emicida. Ele não se esquiva de falar sobre aqueles que o acusam de ter se “vendido ao sistema”. Essas críticas ganharam força recentemente depois que a marca de roupas do cantor fechou uma parceria com uma grande loja de departamentos. Os ataques vieram inclusive de integrantes dos movimentos hip hop e negro. “Quem diz que eu vendi minha alma/Descende de quem dizia que eu nem tinha uma/ Me chama de arrogante/ Porque a vitória de um semelhante/ Pus (sic) verme é um barato humilhante/Quer dar minha cabeça pro seu senhor pôr na estante?/ Esqueça! ”, diz a música.
“Assisti ao longo de minha trajetória muitos artistas inspiradores serem atacados, desrespeitados por motivos sujos, intenções secundárias e argumentos rasos, com a intenção de se aproveitar da confusão de nosso panorama cultural e manter nossos irmãos e irmãs no lixo por mais 500 anos. Esse tempo acabou”, diz Emicida.
‘Inácio da Catingueira’ está disponível em todas as plataformas digitais. A música também ganhou um clipe em formato de lyric vídeo, que conta com xilogravuras animadas. (Veja abaixo)
