Inezita Barroso: grande dama da música caipira

A riqueza musical desta senhora  está impressa no relançamento de seus sete primeiros LPs editados pela primeira vez em CD.

Em março, Inezita Barroso vai completar 87 anos de vida, 60 deles dedicados à boa música caipira. Virtuoi da viola, ela deu à música popular dos anos 50 o folclore, as rimas e o arranjo que consolidaram esse tipo de música como uma das mais belas e nutritivas do nosso cancioneiro.

A riqueza musical desta senhora de invejável vitalidade está impressa no relançamento de seus sete primeiros LPs na Copacabana Discos, editados pela primeira vez em CD. O Brasil de Inezita Barroso (EMI, R$ 120,00) reúne os sete discos em seis CDs, que abrigam um belo e informativo material, raro de se ver e ouvir. As faixas foram remasterizadas e os encartes, recheados com letras, comentários do pesquisador Rodrigo Faour (que assina o projeto) e também da própria cantora, para cada faixa do seu legado.

“Foi muito emocionante (reencontrar esses discos). Às vezes, a gente fica pensando: poxa, a música brasileira era da boa.

Tinha tudo que era gênero, era tudo muito bem cuidado e tinha aquelas orquestras maravilhosas”, comenta Inezita, por telefone, de sua casa, em São Paulo.

Para uma cantora que conviveu com os grandes nomes da autêntica música brasileira, incluindo os grandes do cancioneiro nordestino, como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, a música popular de hoje é superficial.

“Jackson do Pandeiro vinha muito a São Paulo com Almira. Ela era uma criatura maravilhosa, engraçada. E fazia aquelas danças que a gente não vê mais. É uma pena”, suspira, para emendar: “Hoje, se dá uns pulinhos no palco, já chama de artista. Né assim não! Tem muito trabalho para isso, muita estrada de terra, muita chuva… passei por tudo isso e só lamento não ter feito parte de uma trupe de circo. Afinal, a música de raiz caipira tem origem no circo”, conclui, citando Pedro Bento e Zé da Estrada e as Irmãs Galvão como sendo dessa turma.

Nascida em uma família rica, segundo o didático texto de Faour que acompanha a edição de seus primeiros LPs – Inezita Barroso (1955) e Lá Vem o Brasil (1956) – ela descobriu a literatura aos sete e a música na adolescência, ao passar férias na fazenda da família.

Dos palcos, Inezita foi para a televisão. Desde 1980, apresenta o programa Viola, Minha Viola, exibido ininterruptamente aos domingos pela TV Cultura. É uma demonstração da força da música “brejeira”, que segundo Inezita, vem se renovando. “A música caipira não se deixa abater não”, responde. “A renovação existe com toda força. Mas isso é trabalho nosso. Se você visse o monte de CDs que eu tenho aqui pra ouvir…”, desafia.

Além da carreira na música, Inezita também cultivou uma carreira acadêmica. Foi professora da disciplina de Folclore do curso de Turismo de uma universidade de São Paulo, mas largou a toga, segundo ela, por falta de interesse do alunado.

“Eles só queriam entrar no curso para viajar de ônibus de graça”, brinca, com seu constante bom-humor.

Inezita também conta que um dia, dando aula, comentou que a música popular andava meio sem criatividade, que tinha parado em Chico Buarque, Elis Regina… foi quando uma aluna lançou: – Quem é Elis Regina, professora? “Ela passou uma semana sem ir para aula, com vergonha dos colegas”, recorda, entre risos.

Assim como nosso Ariano Suassuna, Inezita luta pela autêntica cultura popular brasileira. “Estamos militando pela mesma causa”, confirma. “Mas a gente pisa em ovos, porque todo mundo fica melindrado quando é para defender a cultura popular. Eu costumo dizer que o Brasil é onde se briga para cantar música da terra, porque é tudo difícil: o microfone é ruim, o som é ruim… mas tá cheio de gente querendo ver e gostando da nossa música”.

Sem pistas de que vai desistir tão cedo, Inezita Barroso revela que este ano, vai tentar gravar seu primeiro DVD. "Se Deus quiser", exclama.