‘Jogador nº 1’ é um divertido e distópico passeio pela cultura pop

Longa de Steven Spielberg une nostalgia e visuais impressionantes

Ready Player One
jogador nº 1
Cena de Jogador nº 1.

RESENHA DA REDAÇÃOJOGADOR Nº 1 (EUA, 2018, 140 min.)
Direção: Steven Spielberg
Elenco: Tye Sheridan, Olivia Cooke, Ben Mendelsohn, T.J. Miller
★★★★☆

O diretor americano Steven Spielberg passou os últimos anos se dedicando a filmes históricos e contidos – considerando a sua megalomania – como The post – a guerra secreta e Ponte dos Espiões. Mas é com Jogador nº1 (Ready Player One, 2018), filme que estreia nos cinemas da Paraíba nesta quinta-feira (29), que Spielberg retorna, com sucesso, ao cinema de ação e pipoca que o consolidou.

O longa, uma adaptação do livro de mesmo nome escrito por Ernest Cline, se passa no ano de 2045. A existência virtual se tornou a regra entre a humanidade, e a população passa a maior parte de seu tempo jogando videogames para escapar de uma realidade desesperançosa e monótona. Nesse contexto, James Halliday (Mark Rylance), o falecido criador do popular jogo OASIS, onde os jogadores interagem entre si através de avatares (como os League of Legends da vida), deixa uma tarefa para sua legião de jogadores e fãs: quem encontrar três chaves escondidas no ambiente virtual do OASIS irá herdar sua empresa, a mais poderosa da Terra. O desafio chama a atenção de Wade Watts (Tye Sheridan), um adolescente órfão que vive com a tia na cidade de Columbus; e da segunda empresa mais poderosa do setor, a Innovative Online Industries (IOI), que busca vencer o jogo para resguardar o monopólio do poder econômico.

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Muitos dos elementos presentes no OASIS fazem referência a elementos da cultura pop e, por isso, assistir a Jogador nº 1 pode ser uma experiência nostálgica para quem cresceu nos anos 80 e 90. De King Kong a Godzilla, passando por O Senhor dos Anéis, Chuck e pelo Atari, o filme presta homenagem a personagens, games e obras que ajudaram a moldar gerações e já são parte constitutiva do meio pop. Além disso, o longa é divertido e lindo visualmente; aqui, Spielberg faz valer ao máximo sua vocação para construir narrativas prazerosas e imersivas, e é quase um susto ver-se em uma sala de cinema quando as luzes se acendem.

jogador nº 1
Tye Sheridan e Olivia Cooke em cena de Jogador nº 1.

Para além da diversão, é interessante perceber como a sociedade apresentada em Jogador nº 1 – grande parte das cidades se transformou em amontoados populacionais cinzentos e desorganizados que traduzem a apatia da população em geral – parece existir em um futuro distópico diretamente relacionado ao atual momento em que vivemos. Em uma época de Internet das Coisas, de governos Trump, de proliferação de organizações extremistas no Brasil e no mundo e duma cada vez maior concentração da renda nas mãos de poucos, a necessidade de escapismo das pessoas no filme (e no livro no qual ele se baseia) torna-se espantosamente verossímil.

Além disso, a empresa que se constitui como a vilã do filme, a IOI, é uma espécie de Monsanto da tecnologia – recorrendo, se for necessário, a assassinatos e exploração de mão de obra para expansão de seus negócios. Assim, o longa soa, nas devidas proporções, como um alerta para um futuro senão provável, pelo menos possível – e isso já é assustador o suficiente.

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O ponto fraco da obra reside, entretanto, no tratamento que ela dispensa a seus personagens. Embora nós tenhamos informações sobre o passado de Wade, elas são transmitidas de forma fracionada, quase que a conta-gotas; e o roteiro assinado pelo escritor Ernest Cline e por Zak Penn mal se importa em prover qualquer profundidade a Samantha (Olivia Cooke), que acaba se transformando no ‘braço direito’ de Wade (o mesmo pode ser dito dos outros membros da ‘gangue’ do protagonista). O presidente malvado da IOI, Nolan Sorrento (Ben Mendelsohn), é única e exclusivamente o presidente malvado da IOI: convertido em estereótipo, não há qualquer outra motivação que justifique as ações da personagem.

Jogador nº 1 é um blockbuster que, além de divertir com seus impressionantes efeitos visuais e sua carga nostálgica, também oferece o que pensar para quem está disposto a perceber o texto nas entrelinhas – afinal, a realidade é mais absurda e perigosa do que pode parecer à primeira vista.