Música alta e moderna

Essa é a proposta de Burro Morto, grupo instrumental referência na cena paraibana e que aqui adianta como será o novo disco.

Em meio a um teclado Minimoog, um piano Wurlitzer e vários kits de bateria Ludwig (marca usada pelos Beatles, por exemplo), o grupo paraibano Burro Morto grava um novo disco. Ainda sem nome, e sem data de lançamento, o sucessor de Baptista Virou Máquina (2010) é talhado com esmero, técnica e calma.

Em uma tarde no estúdio Mutuca, o quartel-general do grupo, no Centro de João Pessoa, o guitarrista Léo Marinho, o baixista Daniel Jesi e o tecladista Haley Guimarães – a formação ainda tem Ruy José (bateria), Pablo Ramires (percussão) e um guitarrista convidado, David Neves, do Ubella Preta – explicaram à reportagem qual o rumo que esse novo projeto está tomando.

O Burro Morto, que surgiu em 2007, busca no novo trabalho uma sonoridade mais moderna em relação aos registros anteriores.

“A gente sempre flertou com isso (modernidade), mas em uma abordagem mais vintage”, explica Haley.

Se, no passado, o Burro Morto paquerou com o jazz, neste, ele busca “fazer uma bateria acústica soar eletrônica”. “A gente tem procurado fazer um som mais minimalista e mais alto”, acrescenta o tecladista.

Léo traduz esse conceito como sendo “enxuto” e “dançante”. “No Varadouro (primeiro EP da banda, lançado em 2007 e que chegou a ter uma pequena tiragem em vinil na França), a gente tinha várias camadas, vários instrumentos, vários sintetizadores. Naquela época, a gente não pensava muito em deixar a sonoridade mais enxuta”, acrescenta o guitarrista, que tem tocado trompete em algumas faixas.

O timoneiro dessa viagem musical, ao menos no plano da inspiração, é um produtor francês chamado Philippe Zdar, a cara-metade do duo eletrônico Cassius, que, segundo a banda, “gosta de soar grave, alto e potente”.

“Ele foi o cara que mixou o último disco dos Beastie Boys (Hot Sauce Committee, Pt. 2, de 2011), que despertou na gente essa coisa do que representa (sonoramente) esta década, de utilizar a tecnologia atual para conseguir fazer um disco alto e que seja moderno, e não datado”, conceitua Haley.

Ainda de acordo com o tecladista, com esse pensamento a banda continua navegando pelo afrobeat, pelo funk e pelos elementos da música negra que pontuam o som do Burro Morto até agora.

Para compor as músicas do grupo, os integrantes ainda se valem de tudo que o olho alcança. “Pelo fato de sermos uma banda instrumental, o visual inspira bastante. Filmes, livros, histórias em quadrinhos, tudo isso é referência para gente”, comenta Daniel.