No epicentro da tragédia

Gravado na cidade de Triunfo e baseado em um conto, filme da atriz e cineasta paraibana Marcélia Cartaxo irá abordar drama familiar.

Atualmente, o nome de Marcélia Cartaxo está no teatro assinando pela primeira vez a direção do espetáculo Meias Irmãs e também atuando na telenovela de horário nobre Aquele Beijo. Como de costume, mais outro passo artístico será dado pela atriz paraibana neste ano, desta vez no terreno cinematográfico.

Na verdade, especificamente será o ‘segundo passo’, já que estreou na direção com o curta-metragem Tempo de Ira em 2003, ao lado da realizadora carioca Gisella de Mello (veja abaixo).

Desta vez assumindo a direção sozinha, Marcélia e sua equipe viajam nesta quarta-feira para a cidade de Triunfo, alto Sertão paraibano, para a produção do curta Redemunho. A intenção da cineasta é realizar o que ela batiza de ‘trilogia da tragédia familiar’, que resultará em um único longa-metragem. “Por si só eles se fecham e se abrem, ligados a um mesmo tema”, define Marcélia em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA.

Enlaçado consanguineamente com seu primeiro curta, Redemunho também é baseado em um conto do premiado escritor cearense Ronaldo Correia de Brito. “É a história de uma mãe que gosta do filho mais do que o outro”, sintetiza o roteiro, escrito a quatro mãos com Virgínia de Oliveira.

A amargurada e severa matriarca (que será vivida por Eleonora Montenegro) é ancorada no passado áureo, com a família detentora de muitas terras e o casarão adornado por móveis oriundos da Europa. Ao longo do tempo, tanto a riqueza como os membros familiares foram se perdendo, inclusive seu filho mais amado, que tinha uma vida voltada para as artes, especialmente a música.

O que sobrou desta época foram a casa decadente, o livro com a árvore genealógica da família, um velho piano e seu outro filho (Daniel Porpino), um vaqueiro rude que acompanhava seu pai na condução das cabeças de gado. Um segredo guardado pela mãe empareda o seu relacionamento com ele.

Redemunho conta com o patrocínio do Fundo de Incentivo à Cultura do Governo do Estado (FIC), que foi aprovado desde 2008. “Reduziram o custo bastante ao longo do tempo mexendo no orçamento”, analisa Marcélia. “Cortaram cerca de 40%, mas dá para exercitar”, explica, frisando também que a equipe conta com o apoio logístico da Prefeitura Municipal de Triunfo.

Mesmo com todas as intempéries que assolam as produções audiovisuais paraibanas, a diretora prevê que o projeto ganhará luz ainda neste primeiro semestre. Segundo ela, uma das opções de lançamento é a 16ª edição do Cine PE – Festival do Audiovisual, que acontecerá em Recife no mês de abril.

OLHANDO DE FORA
Acostumada com as câmeras de cinema desde os anos 1980, com destaque para a premiada encarnação de Macabéia, protagonista de A Hora da Estrela (1985), baseada nas letras de Clarisse Lispector (1920-1977), Marcélia Cartaxo enveredou pelos caminhos da direção desde os primeiros testes na cidade de Monteiro para realizar Tempo de Ira. De lá pra cá, promoveu e ministrou uma série de oficinas cinematográficas, amaciando ainda mais a sua cadeira de diretora.

"De fora, percebemos um bocado de coisas", comenta. "Coisas que percebiam em mim e que comecei a perceber nos outros atores."

Para Marcélia, fazer um curta tem o mesmo trabalho de se fazer um longa. A única diferença é o tempo gasto na produção. "Dirigir vai muito além de atuar. Você conduz o olhar das outras pessoas."