O bruxo congolês

Rapper Baloji vem a João Pessoa para encerrar as comemorações do mês da francofonia, show gratuito acontece no Espaço Cultural.

"Post-hip-hop-africano-híbrido". Assim o rapper Baloji (‘bruxo’, na língua suali) define sua música que tem raízes no Congo, onde nasceu, e na Bélgica, para onde foi levado na infância, aos 4 anos.

Apesar do nome (que segundo ele é derivado do idioma bando e foi dado pelo pai no seu nascimento), Baloji vem a João Pessoa para encerrar as comemorações do mês da francofonia com um show às 20h, no Teatro de Arena, com a participação do Mamma Jazz.

João Pessoa é o penúltimo destino de Baloji no Brasil: a turnê, que começou no dia 18, em Belém do Pará, passou por mais nove cidades e termina na próxima terça-feira em São Luís do Maranhão.

"Visitar o Brasil é como visitar um continente inteiro. O Congo é uma espécie de ‘país-espelho’ do Brasil geograficamente e acho que temos muito a aprender com os brasileiros, não só em termos culturais, mas também sociais e políticos", diz Baloji por telefone, no backstage do Sesc Palladium, em Belo Horizonte (MG), onde fez show na noite de ontem.

Cosmopolita, o feiticeiro africano começou seus sortilégios com a língua francesa na província de Liège, pólo industrial belga onde conheceu a cultura hip hop e ajudou a erguer o coletivo Starflam (ex-‘Malfrats Linguistiques’, ou ‘gangsters linguistas’, em tradução livre).

Com o coletivo, vendeu mais de 100 mil cópias de Survivant (EMI, 2001), fenômeno que levou Baloji à sua primeira temporada no exterior, em Québec (Canadá).

Em 2007, já fora do coletivo, inspirou-se na cena underground francesa e voltou aos holofotes com Hotel Impala, lançado simultaneamente na França (em CD) e na Bélgica (em LP com dois vinis).

No ano seguinte, retomou o contato com a mãe biológica e, desta relação tardia (o jovem já contava com 30 anos), brotou a vontade de recuperar sua ancestralidade africana.

Baloji decidiu então voltar à África e partir para uma viagem de uma semana pelo Congo. Lá resolveu regravar seu disco com lendas do cancioneiro local como Konono Nº 1 (que já foi indicado ao Grammy), Kasai Allstars (‘megaband’ de 25 integrantes) e Zaïko Langa Langa (uma das bandas seminais de um gênero chamado de ‘soukous’ ou lingala’, uma espécie de ‘dance music’ congolesa).

Deste mergulho a suas origens emergiu Kinshasa Succursale, que rendeu um documentário com o making of do disco que será a base do repertório apresentado em João Pessoa. Das 15 faixas do novo CD, sete foram derivadas de seu début e outras seis são composições novas.

ENCONTROS NO BRASIL
"Estou super contente pela acolhida do público e pela variedade de situações com as quais me deparei ao longo desta temporada no país", conta Baloji, que está pela segunda vez no Brasil.

Em 2010, embalado pela repercussão da volta à carreira com Hotel Impala, o músico pousou no Rio de Janeiro, onde fez três shows e teve a oportunidade de entrar em contato com influências da MPB: "gosto de Sérgio Mendes, Seu Jorge e do que considero a ‘santíssima trindade’ da música brasileira: Vinícius de Moraes, Caetano Veloso e Chico Buarque". Os rappers Criolos e Marcelo D2 foram nomes que adicionou mais recentemente à sua rede de contatos.

Segundo ele, ao voltar à França, cogita fazer um projeto que agregue os dois artistas.

Bem relacionado também com o universo fashion, Baloji já foi estrela de campanhas de marcas famosas como a Louis Vuitton.

"Uma das coisas que me impressionaram do Brasil foi o quanto aqui se consome. Aqui parece ser o país do PIB (Produto Interno Bruto). As pessoas estão consumindo o tempo todo", constata ao final da entrevista.

Serviço

• BALOJI. Show com participação especial de Mamma Jazz. No Teatro de Arena do Espaço Cultural  José Lins do Rêgo (av. Abdias Gomes de Almeida, 800, Tambauzinho , João Pessoa – tel.: 3211 6230). Hoje, às 20h. Gratuito.