Astier Basílio, do Jornal da Paraíba
Nelson Rodrigues. O dramaturgo e escritor brasileiro é mesmo uma “flor de obsessão”. De revolucionário nos palcos de sua época, passou a pornográfico pelas lentes do cinema nacional, até ser redimido pelo encenador Antunes Filho à condição de mítico, nos anos 1990. O teatro paraibano o tem em alta conta.
Aqui e acolá, as produções locais procuram inspiração no universo rodrigueano. É o que faz o grupo de Teatro Moca, que encerra neste domingo (30) às 20h, no Teatro Lima Penante, em João Pessoa, a peça ‘Orquídeas Vermelhas’.
O texto, escrito em 2002, é de autoria do dramaturgo e jornalista João Costa e é uma homenagem à obra do autor de ‘Toda Nudez Será Castigada’. Quem dirige o espetáculo e assina a luz é João Batista. Esta é a segunda peça encenada por João Batista que já dirigiu ‘O que Fazer, Chamar a Polícia?’, de Fernando Teixeira.
A peça, como não poderia deixar de ser, fala de conflitos amorosos em famílias, uma das muitas recorrências de Nelson.Em ‘Orquídeas Vermelhas’ duas irmãs dividem o amor de um mesmo homem. Sônia, que está com câncer, prestes a morrer, decide deixar o marido, Maurício, nas mãos de sua irmã, Sílvia.
Peça de Nelson Rodrigues que se preza tem de ter tia. A homenagem de João Costa não foge à regra. Tia Ruthe, que é um dos destaques da trama, alerta que Sílvia – a irmã que vai herdar o cunhado – faz parte de uma família cujas mulheres além de não terem filhos, são abandonadas pelo marido. Participam do elenco Andréa Monteiro, Camila Oliveira, Elysson Feliciano e Elba Góes.
“Há um acordo entre a família, Sônia resolve entregar o marido à irmã para resolver os problemas da família porque sabe que vai morrer, mesmo conhecendo todas as canalhices do marido”, diz Andréa Monteiro, a atriz e bailarina, que interpreta Sônia na peça. “É uma mulher com uma doença terminal, que sabe tudo sobre o marido, mas finge que não vê, inclusive o seu amor pela própria irmã”, acrescenta Andréa Monteiro, que interpreta Sônia.
“Temos na peça um homem preso ao passado, tragédias familiares e que se divide entre duas irmãs. É uma peça difícil de fazer, porque a trama é comum, mas que guarda surpresas para o homem. Mais ou menos assim: eu nunca prestei, por isso não posso ter filhos como eu”, diz Elysson Feliciano, ator que interpreta Maurício.
Nelson Rodrigues continua mesmo na moda. No 11º Festival de Recife, que termina esse final de semana, foi apresentado o espetáculo ‘Cachorro!’, texto de autoria de Jô Bilac, montado pela companhia Teatro Independente, do Rio de Janeiro.
