Por carta, maestro John Neschling é demitido da Osesp

Carioca estava à frente da orquestra desde 1996. Demissão teve relação com críticas feitas por ele a jornal.

Do G1

John Neschling, maestro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) nos últimos 12 anos, foi demitido do cargo por carta divulgada nesta quarta-feira (21) no site oficial da instituição (clique para ler).

O documento assinado pelo presidente da Fundação do Conselho de Administração da Fundação Osesp, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afirma que a demissão veio como resposta a declarações dadas por Neschiling, em dezembro, ao jornal "O Estado de São Paulo", que FHC classificou como "conduta indesejável e inconciliável com o desempenho das atribuições contratuais."

Em junho do ano passado, Neschling já havia apresentado suas intenções de não renovar com a Osesp. Seu contrato, que vence em outubro de 2010, não seria renovado. Apesar de a carta – datada de 20 de janeiro de 2009 – só ter sido publicada nesta quarta (21), Neschling só será comunicado oficialmente da sua demissão, também por escrito, nesta quinta.

O texto de FHC diz que "à luz da gravidade dos termos daquela entrevista, que coroa uma série de manifestações na mesma direção, o Conselho de Administração, com pesar, mas no cumprimento do seu dever estatutário de zelar pela preservação dos interesses da Osesp, decidiu, por unanimidade, pela ruptura contratual imediata. A manifestação pública de Vossa Senhoria deixa poucas dúvidas quanto à possibilidade – como era nossa intenção – de uma convivência harmoniosa, no processo de sucessão, evidenciando conduta indesejável e inconciliável com o desempenho das atribuições contratuais."

A substituição

A fundação vinha buscando um substituto para o maestro, cuja liderança FHC classifica como "fundamental para que a orquestra tenha alcançado o patamar de qualidade e o respeito internacional que hoje possui".

Na mencionada entrevista, publicada em 9 de dezembro sob o título "Minha sucessão está sendo feita de maneira irresponsável", Neschling critica a escolha de nomes internacionais para prestar consultoria na busca de seu sucessor. "Já naquele primeiro almoço, me falaram dos consultores estrangeiros que a orquestra traria para ajudar na busca pelo novo maestro. Ninguém perguntou o que eu achava, apenas me comunicaram. O que disse a eles, depois, foi que o melhor consultor seria eu mesmo – quem conhece esse país? Quem conhece a política local? Eu. Achava a saída muito intempestiva e queria achar outra solução.

Na mesma entrevista, o maestro relaciona a chegada de José Serra ao governo do Estado, em 2007, ao início de seus problemas na Osesp. "Não é segredo nenhum que, mesmo antes da posse, já se falava na minha substituição. O governador não queria, não gostava, não sei o quê", disse a "O Estado de S. Paulo".

Sobrinho-neto do compositor Arnold Schoenberg e do maestro Arthur Bodanzky, o carioca John Neschling foi diretor musical dos teatros municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro no Brasil e, na Europa, foi diretor artístico do Teatro São Carlos, de Lisboa, do Teatro de Sankt Gallen, na Suíça, do Teatro Massimo, de Palermo, e da Ópera de Bordeaux, além de regente residente na Ópera de Viena.

Neschling assumiu a Osesp em 1996, a convite do então governador Mário Covas, com a missão de reerguer a orquestra. Entre suas principais conquistas no período estão a criação da Academia de Música, os concorridos concertos semanais na Sala São Paulo, além das turnês e prêmios internacionais. No final de 2008, a Osesp foi eleita pela revista inglesa "Gramophone" como uma das três orquestras do mundo para se prestar mais atenção.