Rei da comédia, Jerry Lewis comemora 90 anos em plena atividade

Ator, roteirista, produtor, diretor e cantor norte-americano é uma referância para comediantes de várias gerações.

Quando Jim Carrey foi catapultado ao sucesso nos Estados Unidos com Ace Ventura – Um Detetive Diferente (1994), o comediante foi considerado pela crítica como ‘O novo Jerry Lewis’ devido às suas caras e caretas.

Para quem não viveu os anos dourados da Sessão da Tarde nas décadas de 1970 e 80, foi um grande elogio: o ator, roteirista, produtor, diretor e cantor norte-americano foi uma referência pelo seu estilo de comédia ‘física’ e imagética ao longo de mais de 70 longas-metragens. Nesta quarta-feira, Lewis completa 90 anos de idade ainda em plena atividade.

Na verdade, não tão ‘plena’ assim. A elasticidade expressiva das suas caretas se restringe a papéis pequenos e pontas. Em 2013, o brasileiro Leandro Hassum disse que foi o dia mais importante da sua carreira quando contracenou com o ídolo na sequência de Até que a Sorte nos Separe.

Recentemente está no elenco de The Trust, filme com Nicolas Cage (de Despedida em Las Vegas) e Elijah Wood (da trilogia O Senhor dos Anéis) que estreia este ano, e vai contracenar com outras veteranas como Debbie Reynolds (Cantando na Chuva) e Mary Tyler Moore (Gente Como a Gente) em Big Finish, onde vivem num retiro de artistas ameaçado pela crise econômica norte-americana. A previsão de estreia é em 2017.

Chegar aos 90 anos não foi fácil para o comediante. Se por um lado ele fazia o público rir de sequências de ‘gags’ e pura mímica como a clássica cena em que datilografa numa máquina de escrever invisível (Errado Pra Cachorro, de 1963), seu histórico de saúde nos bastidores dos sets de filmagem foi bem conturbado: sua vida esteve por um fio no começo dos anos 1980, quando chegou a ser declarado clinicamente morto depois de vários ataques cardíacos que resultaram em duas pontes de safena. Juntando dores crônicas nas costas, câncer na próstata, diabetes e um quadro grave de meningite no final dos anos 1990, desde 2001 ele luta contra uma fibrose pulmonar.

Foi reconhecido pela Academia de Hollywood no ano de 2009, quando ganhou um Oscar honorário pelo conjunto da sua obra.

LOUCURA E MÉTODO

Pouca gente sabe, mas foi Jerry Lewis que criou, em 1966, o projeto Teleton, um show anual de TV que arrecada até hoje dinheiro dos telespectadores para programas beneficentes. Pela iniciativa difundida em países como o Brasil, o ator foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz, em 1977.

Também já fez papéis mais sérios, como na desconstrução da sua própria imagem como um comediante consagrado sequestrado por um aspirante em O Rei da Comédia (1983). Ao longo dos anos, Lewis colheu a fama de ter sido um profissional insuportável com colegas e diretores. “O problema maior de O Rei da Comédia era que ali o meu trabalho não era atuar. Era apenas ser eu mesmo, bancar a minha história, reinventá-la”, chegou a revelar em entrevista ao jornal O Globo.
Dez anos depois, encarnou o tio sério que quer colocar o relutante sobrinho (vivido por Johnny Depp) nos trilhos do negócio da família em Arizona Dream (1993). O filme foi o vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim na época.

Em 2011 foi lançado Jerry Lewis – Loucura e Método, documentário dirigido por Gregg Barson que aborda a vida e obra do comediante com depoimentos de nomes como Steven Spielberg, Quentin Tarantino, Billy Crystal, Chevy Chase e Eddie Murphy.

Dentre as curiosidades, o filme feito para a TV mostra a contribuição técnica do artista, como a criação do ‘viseo-assist’, que possibilitou rever as cenas rodadas no set. Antes só se podia vê-las na hora e ele, que atuava e dirigia, tinha que analisar as tomadas.

Carreira

‘Amigo da Onça’ (1949). Estreia do comediante na telona, já ao lado do parceiro e galã Dean Martin, que faria mais 15 longas-metragens ao lado de Lewis. Brigaram em 1959, mas ninguém sabe o porquê. Só voltaram a se falar em 1977. Martin morreu em 1995, aos 78.

‘O Professor Aloprado’ (1963). Filme predileto do comediante, um desajeitado professor de química cria uma poção que o transforma num grande conquistador no melhor estilo ‘Dr. Jekyll e Mr. Hyde’. Teve uma fraca refilmagem em 1996 com Eddie Murphy.

‘Jerry Lewis’ (1970). O ator ganhou sua própria animação, originalmente intitulado ‘Will the Real Jerry Lewis Please Sit Down’,  pela norte-americana ABC. Em 18  episódios, no Brasil foi transmitido pelas TVs Manchete, Bandeirantes e Canal 21.

‘The Day the Clown Cried’ (1972). Lewis dirigiu e estrelou esse filme, que mostra um palhaço num campo de concentração sendo usado para ganhar a confiança de crianças judias antes da execução na câmera de gás. Por não encontrar o tom certo, ele não chegou a lançá-lo.

‘O Rei da Comédia’ (1983). No filme de humor negro de Martin Scorsese, Jerry Lewis faz uma paródia dele mesmo como uma consagrada estrela do cinema e da TV que é sequestrada por um aspirante a comediante interpretado por Robert De Niro.

‘Até que a Sorte nos Separe 2’ (2013). Lewis chegou a fazer uma ponta como camareiro na comédia brasileira. Gravado no Rio de Janeiro e em Las Vegas (EUA), após perder a fortuna da loteria, o protagonista vivido por Leandro Hassum tenta a sorte nos cassinos.

SAIBA MAIS

Especial ‘cult’ na TV

Em virtude dos 90 anos de Jerry Lewis, nesta quarta-feira o canal fechado TeleCine Cult programou uma grade especial com quatro longas: a sessão começa às 18h, com Boeing-Boeing (1965) – cuja atuação rendeu a indicação ao Globo de Ouro de Melhor Ator de Comédia ou Musical –, logo depois, às 20h, vai ao ar O Biruta e o Folgado (1952), seguido por Morrendo de Medo (1953), a partir das 22h (esses dois últimos estrelados por Dean Martin), e encerrando a 0h05, com Bagunceiro Arrumadinho (1965).