IMPEACHMENT!

Nesta terça-feira (12), faz quatro anos que o Senado aprovou a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff.

A presidente foi afastada e não mais voltou.

O impeachment entrou no radar da minha geração na primeira metade dos anos 1970 no Watergate, o escândalo que levou o presidente americano Richard Nixon à renúncia.

Em 1992, no impeachment de Fernando Collor, primeiro presidente eleito pela via direta depois do golpe de 64, eu tinha 33 anos.

Collor ficou só. Ele e sua pequena tropa de choque, da qual faziam parte tanto o paraibano Ivan Burity quanto Roberto Jefferson, agora aliado de Jair Bolsonaro.

O presidente não tinha ao seu lado vozes que pudessem construir a narrativa de que fora vítima de um golpe.

Em 2016, no impeachment de Dilma Rousseff, a única mulher a governar o Brasil, eu tinha 57 anos e custei a crer que o impedimento de Collor não havia sido o único testemunhado por minha geração.

Sempre tive o entendimento de que, a um só tempo, Dilma se inviabilizou e foi inviabilizada.

Discordava em 2016 e ainda discordo em 2020 do uso da palavra golpe por uma razão muito simples: num golpe, a vítima não participa do processo, e Dilma participou, cumprindo todo o ritual estabelecido num impeachment.

Em 2020, quatro anos após o afastamento de Dilma Rousseff, tenho quase 61 anos e já não me surpreendo que se cogite submeter o presidente Jair Bolsonaro a um processo de impeachment. Mas lamento que um instrumento como este tenha se banalizado no Brasil, a despeito de todas as demonstrações que o presidente já deu de sua incapacidade de exercer o cargo para o qual foi eleito por quase 58 milhões de brasileiros.

Em 2018, durante a campanha que levou Bolsonaro ao poder, o jornalista Fernando Gabeira escreveu algo que ficou bem guardado em minha memória: que o Brasil precisa saber eleger presidentes que possam governar no ano seguinte.