O cineasta Richard Donner morreu aos 91 anos.
É dele o Superman, O Filme, de 1978.
Belo filme.
Vi na estreia, sentado no chão, num tempo em que, às vezes, as 800 cadeiras do Cine Municipal eram insuficientes para o público.
A morte de Donner me trouxe a lembrança de que o filme inspirou Gilberto Gil a compor Super-Homem, A Canção, uma das suas músicas mais populares.
A canção é do álbum Realce, de 1979, e ainda hoje permanece no repertório dos shows de Gil.
A história é contada em detalhes no livro Todas as Letras, organizado por Carlos Rennó.
De viagem para os Estados Unidos, onde faria uma turnê e gravaria o disco Realce, Gil, que morava em Salvador, estava de passagem pelo Rio e se hospedara na casa de Caetano Veloso.
Na véspera da viagem, foi dormir mais cedo, mas não conseguiu porque Caetano chegou em casa empolgado com o filme que acabara de ver – o Superman de Donner – e comentava as cenas com as pessoas que estavam na sala.
Narrada em detalhes por Caetano, uma cena, em particular, chamou a atenção de Gil. Aquela em que o Superman inverte a rotação da Terra para, fazendo o tempo retroceder, devolver a vida à sua namorada, que morrera num acidente.
Gil tentou dormir, mas não conseguiu, pensando na cena do filme. No quarto, sozinho, acendeu a luz, pegou o violão e, em pouco tempo, a canção estava pronta.
“Um dia, vivi a ilusão de que ser homem bastaria…”
Em 1979, quando foi lançada, Super-Homem, A Canção era associada ao tema da homossexualidade.
Gil explica que não. O que a canção tem é uma insinuação de androginia:
“Me interessava revelar esse imbricamento entre homem e mulher, o feminino como complementação do masculino e vice-versa, masculino e feminino como duas qualidades essenciais ao ser humano”.
Ainda Gil: “Eu tinha feito Pai e Mãe antes, já abordara a questão, mais explicitamente da posição de ver o filho como resultado do pai e da mãe. Em Super-Homem, A Canção, a ideia central é de que pai é mãe, ou seja, todo homem é mulher (e toda mulher é homem)”.
Lá se vão mais de 40 anos, e Super-Homem, A Canção ficou como uma das mais belas e inspiradas canções de Gilberto Gil. É a sensação que tenho todas as vezes em que reouço o álbum Realce, disco impecável, mas tão criticado na época em que foi lançado.
E o cineasta Richard Donner, que agora se foi aos 91 anos, nos deixou uma série de filmes comercialmente muito exitosos e esse incomparável Superman, The Movie.
