O Jornal Nacional do 7 de setembro foi espetacular para nós, os não bolsonaristas

O Jornal Nacional do 7 de setembro foi espetacular para nós, os não bolsonaristas

Começo não pelo Jornal Nacional, mas por uma imagem que me matou de vergonha. Não gosto de futebol. É um dos meus defeitos. De um modo geral, não gosto de esportes. Mas sei admirar quem é craque em sua modalidade. A Fórmula 1, por exemplo, chamou minha atenção quando vi Fittipaldi conquistar dois títulos mundiais. Mais tarde, Piquet conquistaria três. Senna, também. Hoje, temos Hamilton, esse gigante com sete títulos, um preto fazendo notável ativismo num esporte de brancos.

Sempre achei o Brasil injusto com Piquet. Ora, só Senna é incensado, e já era antes de morrer. Os dois, igualmente, com três títulos mundiais. Mas tem o carisma deste e a total ausência de carisma daquele, me explicavam os que não gostavam de Piquet. O tempo passou, e ontem, no 7 de setembro, vi Piquet jogar o nome na lama. Não, não. Vi ele próprio atirar-se na lama, de corpo e alma. O piloto virou motorista do Rolls Royce da Presidência da República. Dirigiu o carro que levava o presidente Jair Bolsonaro para o hasteamento da bandeira.

Mas vamos ao jornalismo. Passei o dia ligado na Globo News. Brasília, com muita gente, menos, porém, do que o governo esperava. O discurso claramente golpista (e, portanto, criminoso – como disseram os juristas) do presidente. Copacabana com milhares de bolsonaristas, e uma imagem incrível: no meio da multidão, de camisa amarela, lá estava ele. Sim. Ele. Fabrício Queiroz, o cara do esquema das rachadinhas da família presidencial. E as pessoas se deixando fotografar ao seu lado. Fãs. Tietes. Contra a corrupção? Coisa nenhuma!

O Jornal Nacional, óbvio, veio com o resumão de tudo. Da manhã em Brasília à tarde na Avenida Paulista. Uma edição toda editorializada. De certa forma, opinativa. Até genocida, vimos/ouvimos em algum momento. Crimes de responsabilidade por parte do presidente? Sim! Golpismo? Claro! Ameaças e mais ameaças à democracia? Era o que os âncoras ressaltavam, o tempo todo, quando se referiam aos atos que o governo promoveu nesta terça-feira, não para comemorar o dia da Independência, mas para difundir o golpismo de Bolsonaro.

O Brasil vive um momento dramático e de grandes riscos para o estado democrático de direito. Cada um de nós tem um papel a desempenhar, como sugere Yascha Mounk no admirável livro O Povo Contra a Democracia. A grande mídia também tem o seu imprescindível papel, nos disse ontem, com todas as letras, o Jornal Nacional. Já dissera, mais cedo, a Folha de S. Paulo em contundente editorial. O Jornal Nacional do 7 de setembro foi espetacular para nós, os não bolsonaristas, que hoje, felizmente, somos maioria no Brasil.