BOB DYLAN, O BARDO JUDEU DE MINNESOTA, FAZ 80 ANOS HOJE

BOB DYLAN, O BARDO JUDEU DE MINNESOTA, FAZ 80 ANOS HOJE

BOB DYLAN, O BARDO JUDEU DE MINNESOTA, FAZ 80 ANOS HOJE

BOB DYLAN, O BARDO JUDEU DE MINNESOTA, FAZ 80 ANOS HOJE

Na canção popular dos Estados Unidos produzida por essa geração que nasceu na década de 1940 e se tornou conhecida mundialmente a partir dos anos 1960, o nome de Bob Dylan pode até não ser, na essência, o de maior talento musical, mas, sem qualquer dúvida, é o mais importante.

Robert Allen Zimmerman, nascido em Deluth, Minnesota, estado da fronteira com o Canadá.

Bob Dylan – com o Dylan do nome artístico retirado do poeta Dylan Thomas.

Dylan, simplesmente, como nós o chamamos.

Ou do jeito que ele mesmo canta:

“You may call me Bobby”.

“You may call me Zimmy”.

Nesta segunda-feira, 24 de maio de 2021, festejemos!, Bob Dylan, que Caetano Veloso, em uma de suas canções, chamou de “o bardo judeu de Minnesota”, faz 80 anos.

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Se você quer conhecê-lo melhor, leia a extensa biografia No Direction Home (no Brasil, A vida e a Música de Bob Dylan/Larousse), de Robert Felton, que, sem constrangimentos, ostenta as virtudes e exibe os defeitos do artista e do homem.

Ou veja o filme que se chama igualmente No Direction Home, um documentário de quatro horas de duração, no qual o diretor Martin Scorsese pretende (e bem que consegue!) sintetizar o que Dylan é debruçado apenas sobre os cinco primeiros anos da carreira dele.

Ou, ainda, se deixe arrebatar pelas quase 500 páginas de Bob Dylan, Letras 1961-1974/Companhia Das Letras, com a tradução para o português, de Caetano W. Galindo, do pedaço mais significativo do seu cancioneiro.

Há também o volume um das Crônicas/Planeta, livro de memórias que decepciona um pouquinho, mas, de todo modo, oferece o poeta fazendo prosa.

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Tudo o que eu disser sobre as melodias nada complexas, as letras extraordinariamente brilhantes, o violão simplório e a voz singular de Bob Dylan já foi dito. Ou será fartamente repetido hoje pela imprensa do mundo inteiro. Do jeito que merece esse cara que, em 2016, ganhou o Nobel de Literatura e pôs em profundo questionamento a tradição do prêmio.

Tento, então, oferecer ao leitor algum olhar mais pessoal.

Os quatro números que ele faz no filme The Concert For Bangladesh (no disco, cinco) são deslumbrantes. Têm Leon Russell e os beatles George Harrison e Ringo Starr ao seu lado. Não houve ensaio. Ele voltava de um autoexílio em Woodstock, com a barba por fazer, o cabelo cheio de cachos, a beleza da juventude (acabara de completar 30 anos), um surrado blusão jeans e um violão tosco que, na introdução do número final, parece uma viola nordestina.

É Just Like a Woman.

Ele escreveu centenas de canções. Poucas tão bonitas quanto esta.

“Ah, você finge igualzinho a uma mulher, é verdade

Você faz amor igualzinho a uma mulher, é verdade

Aí você sofre igualzinho a uma mulher

Mas você desmonta igualzinho a uma criança”     

São versos de um letrista de canção popular, música pop apenas. Vulgar, banal – para tantos.

Mas são versos que remetem aos grandes poetas – quando a gente debate se há ou não distinção entre os dois.

E isso dito em seu idioma original?

E a ênfase do cantor sobre a palavra “girl” em algumas performances ao vivo?

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Em The Freewheelin’ Bob Dylan, seu segundo disco (primeiro autoral), lançado em maio de 1963, há uma canção chamada A Hard Rain’s a-Gonna Fall.

Uma chuva pesada vai cair.

“Eu encontrei um homem que foi ferido no amor 

Eu encontrei um outro homem que foi ferido pelo ódio

E é pesada, e é pesada, é pesada, e é pesada

E é uma chuva pesada que vai cair”

Seis meses mais tarde, no dia 22 de novembro, a pequenina câmera amadora de um anônimo de nome Zapruder seria a única a registrar o assassinato do presidente Kennedy, em Dallas.

Mais de 40 anos depois, no documentário No Direction Home, Martin Scorsese juntou os versos da canção profética de Dylan com as imagens realíssimas de Zapruder.

E estas agora estão associadas àqueles.

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Dylan foi folk, fez canção de protesto, foi acústico.

Dylan largou o folk, a canção de protesto e trocou o violão por uma guitarra Fender.

Dylan cantou de cara limpa e com o rosto todo pintado.

Dylan é judeu, mas já foi cristão.

Em The Last Waltz, Scorsese o filmou lindamente, usando um chapéu e cantando Forever Young.

Quando vi seu show ao vivo, bem de perto, e ele cantou Forever Young, uns garotos ao meu lado, no meio da multidão, o saudavam  enquanto ele praticamente declamava os seus versos:

“Que você cresça e seja justo

Que cresça verdadeiro

Que saiba sempre a verdade

E veja as luzes que te cercam

Que você tenha sempre coragem

Que fique ereto e seja forte”

Nenhum de nós será jovem para sempre.

Dylan hoje é um homem velho de 80 anos.

Desejemos, então, que o vento continue trazendo respostas para as perguntas feitas, em 1963, em Blowin’ in the Wind, a mais clássica canção de protesto do jovem Dylan.

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As traduções das letras aqui publicadas são de Caetano W. Galindo.