CADÊ SÃO JOÃO?

O São João, a mais bela das festas populares do Nordeste, foi descaracterizado. Até as quadrilhas juninas deixaram de ser o que eram. E sabem o que acho? Que é assim mesmo. Que não adiantar chorar. O poder público é responsável por isso que está acontecendo e, como tal, comete uma grande irresponsabilidade. A iniciativa privada, também. É a força da grana a destruir – e não a erguer – coisas belas. A massa gosta, enquanto uns poucos lamentam a desconstrução das tradições.

Em 1985, fiz parte da comissão do IV Centenário da Paraíba. Representando a comissão, fui ver de perto o São João de Campina Grande. Ronaldo Cunha Lima era o prefeito da cidade e estava à frente da festa. Fiquei feliz e emocionado com o que vi. Era tudo tão bonito! Hoje, não vou mais. De longe, constato que o que há no Parque do Povo não é uma evolução natural dos festejos juninos, mas uma deturpação dos seus significados.

Elba Ramalho andou gritando, uns anos atrás. Foi importante a sua manifestação. Mas a própria Elba andou se alinhando ao que há de pior na política brasileira. Ficou do lado dos que vieram para destruir a cultura e os seus melhores representantes. O grito de Elba, portanto, perdeu credibilidade, embora muitos possam dizer que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Mas tem.

O meu São João é interior. Não o geográfico, mas o que está dentro de mim. E é essencialmente musical. Pode ser tanto o de 70 anos atrás, com os sucessos de Luiz Gonzaga, quanto aquele ainda recente de Gilberto Gil cantando Esperando na Janela. Aliás, Gil costuma fazer shows juninos incríveis, promovendo o encontro das matrizes com a sua atualização, com a modernização dos ritmos nordestinos.

As marchinhas de Antônio Barros estão entre as coisas que mais me emocionam no repertório junino. São três marchinhas gravadas originalmente pelo Trio Nordestino, aquele grande power trio da música da região. Se você ama de verdade o São João, duvido que elas não lhe toquem. Nesta segunda-feira (19), trago Brincadeira na Fogueira, Naquele São João e É Madrugada num medley conduzido pelo maestro Spok.